Grande Alencar

O homem que morreu esta semana, de nome José Alencar Gomes da Silva, representou muito mais para o Brasil do que o de vice-presidente da República por dois mandatos. Não fosse ele, muito provavelmente Lula não teria sido eleito da primeira vez e o Brasil seria muito outro.

Não se trata de mais um elogio a um falecido. O próprio Lula diz isso há muito tempo, bem antes de a doença renitente conseguir levar este bravo guerreiro, após 13 anos de luta. Foram 17 cirurgias e boa parte do organismo desfigurada por cortes e amputações.

Lula conta como conheceu Alencar, quando este era senador por Minas Gerais. Ele iria comemorar aniversário de 50 anos como empresário, numa concorrida festa, em Belo Horizonte. José Dirceu, então presidente do PT, era um dos convidados e conseguiu mais um convite para levar o companheiro.

Lula relutou um tanto, alegando não ver muito sentido naquilo. Mas, por insistência de Dirceu, acabou concordando em ir à festa. Bem ou mal, seria uma oportunidade de conversar com pessoas diferentes, justamente de um estado de grande importância eleitoral.

A primeira surpresa foi logo na chegada. José Alencar recebeu Lula com um afeto acima do que o convidado, meio penetra, poderia esperar.  A acolhida foi mais do que gentil e elegante. Foi quase de euforia, sentimento que se repetiu durante todo o transcorrer da festividade.

Lula chegou a comentar com Dirceu que poderiam tentar marcar uma conversa com o aniversariante num outro dia, para discutir política de Minas e do Brasil. “Na verdade, eu pensei que estava ali meu vice”, relembra. Ao saírem, o próprio Lula informou Alencar deste seu interesse e obteve resposta positiva no ato. Era só marcar a data.

Na data, Lula e Dirceu levaram um trunfo na manga. Dependendo de como a conversa evoluísse, eles convidariam o empresário para formar a chapa de Lula para as eleições presidenciais de 2002. Isso, mesmo sabendo que o plano de Alencar era de ele próprio se candidatar a presidente da República.

O fato é que eles fizeram o convite e deu no que deu. Um dos maiores empresários do País formando chapa com o operário que a propaganda reacionária rotulava de “perigoso comunista”, que iria acabar com a propriedade e essas coisas que todo mundo já ouviu falar.

É certo que essa aproximação fazia parte da flexão feita PT e seus aliados, no sentido de ampliar o fatídico percentual máximo de 35% do eleitorado que votaria em Lula se mantido o leque de alianças que tinha até então.

Mas o cara tinha que ter muita coragem para, como diziam muitos de seus amigos e correligionários, “colocar em risco uma promissora carreira política”. Pior do que fazer uma aliança com a esquerda, ele estava se alinhando com um líder operário, que, por isso, seria um revolucionário em potencial.

Alencar demorou a despertar para a política, como ele mesmo contou inúmeras vezes em entrevistas, palestras, discursos e rodas de conversas. E pegou o vírus quando foi eleito presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais.

Foi candidato a governador uma vez e perdeu, mas depois obteve estrondosa votação para o Senado. Era, pelo que já percebia do jogo político, meio caminho andado para um passo mais ousado, no rumo do Palácio do Planalto em Brasília. Contava para isso com respeitável patrimônio, que é o eleitorado de Minas Gerais.

Ao abdicar dessa pretensão, ele demonstrou uma visão muito além de interesses pessoais ou vaidade. Pensou no Brasil. Suas posições em defesa do verde-amarelo, hoje conhecidas e respeitadas, começavam a ser explicitadas ali mesmo, no começo dessa parte da sua história.

É claro que o cargo de vice-presidente do Brasil é mais do que um simples posto, como nos revela a nossa história. Começa, aliás, pelo começo. Desde Floriano Peixoto, que assumiu na renúncia do primeiro presidente da República, marechal Deodoro da Fonseca.

E vem sempre em destaque, com o suicídio do presidente Getúlio Vargas e, já nos tempos mais recentes, a assunção de João Jango Goulart com a Renúncia de Jânio Quadros. Depois, veio José Sarney, com a morte de Tancredo Neves, e Itamar Franco, com o impeachment de Fernando Collor.

Mas José Alencar não contava com os desígnios do destino, ele queria era ser um bom vice de Lula para fazer um, dois ou quantos governos fossem necessários. Sua dedicação ao trabalho, no governo, impressionava funcionários mais antigos, acostumados a vices figurativos.

Ele tinha uma força brutal no enfrentamento das dificuldades da vida. Era o 11º filho de um renque de 15, mas desde muito jovem era o líder entre todos, sem impor nada, apenas defendendo idéias. Era balconista na loja de seu pai e por isso não estudou muito.

Aos 18 anos, pediu alforria ao seu pai e montou uma loja, um armazém. Depois, mudou de ramo e comprou umas indústrias de tecidos. Hoje, sua principal empresa, a Cotemig, é a maior indústria têxtil do Brasil.

É uma trajetória muito rica, cheia de vigor na alma e amor pelo Brasil. Não tenhamos dúvida, foi um grande nome da história do Brasil.

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