Grande mídia: a pior das externalidades econômicas
O conceito original sobre externalidade é atribuído pelos economistas liberais a Alfred Marshall, que o formulou nos inícios do século passado.
Publicado 22/02/2016 14:30
Em síntese, uma externalidade “ocorre quando os agentes econômicos interagem no mercado, gerando, sem intenção, benefícios ou malefícios para indivíduos alheios ao processo”.
Quase sempre os livros sobre o tema trazem dois exemplos bem simples para explicar tanto as externalidades positivas quanto as negativas.
Um agricultor que tem sua colheita incrementada em decorrência da polinização realizada por abelhas criadas por um apicultor vizinho é a citação mais comum para ajudar a entender uma externalidade positiva. O agricultor é beneficiado pela ação das abelhas do vizinho, sem pagar nada por isso.
Já o exemplo mais usado para se ilustrar uma externalidade negativa provavelmente é o de uma indústria que, ao emitir alguma poluente na atmosfera, acaba afetando a saúde das pessoas que moram em seu entorno, gerando um gasto no tratamento de saúde das mesmas.
Ambos os exemplos, embora didáticos, são caricatos ao representar a complexidade de um sistema que atua muito além dos sistemas.
Mas seguindo a lógica destas externalidades, há uma em especial, extremamente negativa à economia nacional, que nunca é mencionada e tampouco mensurada pelos economistas burgueses: a externalidade negativa causada pelos grandes meios de comunicação privados.
Na desesperada luta pela audiência, emissoras promovem um vale-tudo para prender o telespectador à frente da televisão ou do computador. Os ingredientes são os mesmos de sempre, ou seja, violência fortuita, sexo explícito, agenda negativa e o pessimismo generalizado que joga nossa auto-estima na lata do lixo.
O fato de o Brasil ser o único país que contrariou a correlação direta entre aumento de renda e escolaridade da população com a diminuição da violência, por exemplo, pode ser mais bem entendida por esse incrível poder de manipulação da mídia em promover a banalização da violência e incitar o ódio de diversas formas. Essa externalidade pode ser constatada nos hospitais e nos obituários.
O apelo sexual, vulgar e sexista, que projeta nosso país no exterior como um destino para o turismo sexual, é outra externalidade que nos causa prejuízos de todas as ordens. A mídia privada age livremente usando da dita sexualidade latino-americana e brasileira como um apelo erótico para incrementar seu “ibope” e intensificar a fechização de mercadorias. O mercado lucra e os povos pagam a conta.
E a agenda negativa? Essa é certamente a pior de todas as externalidades econômicas. A grande mídia privada repete a palavra “crise” em uníssono, o tempo todo.
Muito dessa crise sistêmica do capitalismo mundial é potencializada a enésima potência pelo seu fator subjetivo aqui no Brasil.
Não é apenas a confiança dos agentes econômicos que é abalada, mas, sobretudo a confiança do povo brasileiro que é posta em xeque pelo terrorismo midiático que impele as pessoas a economizarem por temor a um futuro pintado como dos piores possíveis.
A imprensa brasileira, ao trabalhar o imaginário do povo brasileiro com sua tática do medo e de histeria coletiva, promove um desserviço de proporções inimagináveis à economia brasileira.
É essa externalidade, pois, merecedora da centralidade de nossas atenções e ações.