Guerra Fria do século 21?

Com grande expectativa o mundo todo está acompanhando os desdobramentos da Ucrânia, afinal de contas, desde os anos 2000, os Estados Unidos já contribuíram de forma direta ou indireta com a queda de diversos regimes, como os do Iraque, Afeganistão, Egito, Líbia, Paraguai e, mais recentemente, da Síria (apesar de ainda não ter conseguido). Isto fora as tentativas frustradas na Venezuela, a demonização da Coréia Popular e o eterno bloqueio a Cuba.

Neste campo de guerras e golpes de estado, chama atenção o caso da Síria, que, a meu ver, terá tudo a ver com o que hoje se observa acontecer na Ucrânia. Depois de anos de sono, o Conselho de Segurança da ONU, capitaneado por Rússia e China vetou a invasão ianque no país asiático, gerando um ódio sem tamanho de Washington e o consequente financiamento por parte dos estadunidenses para alguém fazer o serviço sujo para eles: os grupos separatistas, os terroristas do Al Qaeda (ex-inimigos, olha que curioso!), e outros tipos de rebeldes e mercenários.

Tendo em vista a sede estadunidense imperialista por petróleo, a ação destes dois países gerou problemas estruturais nos Estados Unidos, que, evidentemente, não iriam deixar barato. E aqui surge a gloriosa Ucrânia.

Mesmo não sendo uma potência no campo político ou militar, este país tem um papel geopolítico de extrema importância no xadrez geopolítico que se monta no século 21, pois sua localização, simplesmente, abriga a base naval russa em Sebastobol e o porto em Odessa a mais de 300 anos. A península da Crimeia, de maioria russa, controla o Mar Negro e as comunicações de importantes zonas energéticas (de reservas de gás e petróleo) através dos estreitos de Bósforo e Dardanelos com o Mar Mediterrâneo.

Ora, teria maneira melhor de se vingar dos ex-soviéticos do que os isolando economicamente? Mostrando ao mundo que a Rússia de hoje não faz cócegas à antiga URSS? E que Putin, de ex-agente da KGB, não passa de mais um presidente sem peso político?

Como diria Garrincha, faltou combinar com o adversário… De antagonista a Rússia de Putin se transformou em protagonista (com ajuda da China em nota oficial) cravando uma nova guerra política com os USA que não se via desde os tempos da Guerra Fria.

Uma guerra repaginada é verdade, pois não mais existe contraposição ideológica, mas política e militar, tendo, de um lado os russos interessados na Crimeia e em manter sob seu poder uma dos mais importantes pontos militares do mundo e de outro os ianques de olho no mesmo ponto, fora o esmagamento econômico e moral de seu eterno rival do Norte.

Outro ponto curioso nesta jogatina de guerra se dá no papel de oposição à política externa americana que a Ucrânia jogou na Europa, ao negar-se a se juntar à União Europeia e se inclinar a participar da União Econômica Eurasiana, capitaneada pela Rússia para trazer para perto de si todas as ex-repúblicas soviéticas e, na prática, uma forma de Pacto de Varsóvia Não Comunista disfarçado, que devolveria ao Urso do Norte todo seu poderio econômico, militar e político da ex-URSS.

Combater um inimigo deste porte, o maior que os USA já teve, é importante do ponto de vista geoestratégico, afinal de contas, esta turma toda junta, mais a Coreia do Norte, a China e outros países não alinhados a Washington poderiam de fato representar uma polarização econômico-militar do século 21, contrariando os interesses americanos que deram tão certo depois da queda do Muro de Berlin.

Putin, um dos mais hábeis estadistas do presente, prevendo tudo isso, agiu rapidamente mantendo a Crimeia sob o controle russo e ameaçando aos quatro ventos a tomada de poder pelos nazifascistas ucranianos. Se Putin terá peso para manter a Ucrânia unida como está no mapa político atual não se sabe, mas perder a região citada, é quase impossível, sendo cada vez mais real sua incorporação à Rússia, como foi no passado (até 1954).

O que se desenha, parece uma nova Iugoslávia, toda dividida e sem o poder político e militar dos tempos de Tito, ou a Alemanha do pós-guerra dividida em quatro zonas de influência, sendo uma dessas, russa.
Como vai terminar este conflito eu não sei, mas que tem cara de filme repetido tem, ah, isso tem.

Veremos quem joga melhor xadrez no campo de batalhas ucraniano.

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