Ideal e desprendimento: legado da frente popular do Acre

Em tempos de defensiva estratégica do movimento revolucionário socialista mundial, cada inovação apresentada como avanço na dificuldade conjuntural e no combate democrático precisa ser destacado. E no Acre, a experiência de esquerda vem produzindo e acumu

Em tempos de defensiva estratégica do movimento revolucionário socialista mundial, cada inovação apresentada como avanço na dificuldade conjuntural e no combate democrático precisa ser destacado. E no Acre, a experiência de esquerda vem produzindo e acumulando ensinamentos importantes.

 

 


Depois de consolidar a unidade entre os partidos de esquerda e inovar com a ousadia nas eleições municipais, lançando novas lideranças para as disputa majoritária e proporcionais, a nova característica da Frente Popular do Acre mais evidente pode ser chamada de desprendimento. É essa a palavra que caracteriza as movimentações da Ministra Marina Silva em sua decisão de não concorrer às eleições para governo agora em 2006, já que é uma liderança de expressão internacional e figura como unanimidade no interior da Frente Popular.

 

 


Marina, teve leitura clara do papel que cumpre no Ministério do Meio Ambiente e não titubeou em manter-se no posto de combate que é espinhoso, árduo por seu caráter estratégico do ponto de vista mundial, como é o debate da preservação da Floresta, o debate da biodiversidade, da exploração sem a depredação e sem o esgotamento dos recursos naturais, da preservação das águas, da educação sobre manuseio dos resíduos produzidos por toda a forma de metabolismo nas cidades (a produção de lixo nas casas residenciais; a produção de lixo nas grandes indústrias) e o debate da biogenética.

 

 


Arnóbio Marques, o Binho, por sua vez terá que construir um olhar macro para o projeto de governo da FPA, emprestar para os demais órgãos do Estado, a dimensão técnica, transformadora e vitoriosa executada na área da Educação, cuja experiência de doze anos na FPA (prefeitura da capital e governo do Estado), atinge reconhecimento mesmo de adversários maiores de tal sorte que é referenciada em várias circunstâncias (inclusive em revistas classistas como a Veja – ver artigo Cláudio de Moura Castro; veja nº 12 de 29 de março de 2006). Esse movimento (remodelar a vida e as referências técnicas e políticas) também exige desprendimento.

 

 

 
Por fim e em minha opinião o maior simbolismo desse desprendimento está na decisão do Governador Jorge Viana concluir sua gestão até o dia 31 de dezembro de 2006, deixando de lado a possibilidade de concorrer a uma eleição na esfera Federal. Um gesto que precisa ser efetivamente ressaltado, por exemplificar o nível de avanço do pensamento político, o grau de solidariedade coletiva que as lideranças alcançaram e ao mesmo tempo, a profundidade e o empenho com o ideal de Acre bem cuidado, não só estruturalmente, mas cuidado no campo das idéias e da consciência política.
Até bem pouco tempo atrás, lideranças atuavam com carreirismo, galgavam postos e mesmo sem considerar uma avaliação popular buscavam sempre postos de mandatos.

 

 

 

O patamar era pessoal ainda que necessitasse de um determinado grupo para garantir a subida ao poder e a sua manutenção. Jorge Viana, caminha para concluir uma gestão com altos índices de aprovação popular, como um marco na História do Acre e como um mandato a ser perseguido por seu sucessor para ser igualado ou superado. Seria natural e mais do que legítima uma reivindicação pessoal para concorrer a um mandato para Deputado Federal ou mesmo Senador.

 

 


Contudo, o movimento realizado é o da segurança de um projeto histórico da FPA, a compreensão e a expressão no exemplo de que o indivíduo deve estar a serviço da coletividade e o cuidado com um projeto de sociedade deve estar acima dos projetos individuais, mesmo quando o indivíduo está credenciado e devidamente aprovado em seus serviços pela e para a sociedade.

 

 

 
No Partido Comunista o grande compromisso

 

 

No PCdoB, em particular, tivemos vários gestos dessa magnitude, várias lideranças estavam aptas aos mais diversos cargos eleitorais. A Deputada Federal Perpétua Almeida, poderia naturalmente pleitear o posto de Vice-Governadora, na composição majoritária para 2006, mas compreendendo o papel destacado que vem cumprindo no sentido de divulgar o Partido, de consolidar a influência comunista não só na propaganda efetiva e na fundação de novos diretórios municipais, mas na relação institucional com o governo do Estado e com as prefeituras de toda a federação acreana, onde o mandato abriu parcerias, ela manteve-se firme para enfrentar a jornada da reeleição.

 

 


Nas definições de Deputado Estadual, várias lideranças apresentavam-se com possibilidades expressivas de disputa. Tínhamos dirigentes que haviam disputado prefeitura ou mesmo já administrado, como é o caso de Ériton Maia em Mâncio Lima e o “serraria” em Capixaba. Outras lideranças com grande ascensão como a vereadora Ocenilza em Senador Guiomard (quinari), o ex-presidente do Sinteac de Cruzeiro do Sul, José Maria, outros sindicalistas. Todos foram avaliando o processo e convergindo para a possibilidade de um projeto eleitoral que delineou-se em torno da reeleição do atual Deputado Estadual Moisés Diniz, da candidatura na região do alto Juruá do camarada já vereador Zequinha e uma candidatura em Rio Branco, a capital, a ser definida entre os três vereadores, já que o Deputado Estadual Edvaldo Magalhães, foi conclamado pelo partido para ser apresentado ao debate na composição Majoritária como candidato a vice-governador.

 

 

 


Nesta decisão reside uma das mais belas páginas da história do PCdoB do Acre. Na capital, três vereadores, Ariane Cadaxo, Pascal Khalil e Márcio Batista, todos com reais chances eleitorais, foram nomes avaliados. Porém o tema apreciava dois grandes contextos: O primeiro, a necessidade de consolidar a administração da Frente Popular no município; o papel político a ser desempenhado na Câmara Municipal, garantindo a boa intervenção no debate político; a ação na articulação da base de sustentação política e mesmo a interlocução com a oposição.

 

 

 
O segundo elemento, a necessidade de não confrontarmos candidaturas em ambientes de características semelhantes, como duas dentro do movimento sindical, juventude, etc. Esse entendimento foi efetuado com equilíbrio, maturidade e serenidade.
Ariane Cadaxo, herdeira de um legado político de ex-governador, de família influente na política, soube compreender e tratar o assunto internamente concedendo à direção do partido a tranqüilidade necessária para o bom andamento das avaliações e decisões.

 

 


Márcio Batista, líder do prefeito da capital, herdeiro da trajetória política do partido em Rio Branco, poderia exigir a qualquer preço a consolidação de uma candidatura. Naturalmente considerado pela opinião pública e pelos mais variados setores da sociedade e do partido como a bola da vez, por ser eleita com maior densidade eleitoral, soube abdicar desse bom posicionamento em nome da frente popular e do bom andamento do projeto eleitoral do PCdoB.

 

 


Assim, a definição sobre o candidato em Rio Branco, foi levemente construído com o chamado do vereador Pascal, líder do Partido para assumir o desafio de buscar a eleição, num corte inicial demarcado para 4 mil votos, num universo de 150 a 180 mil eleitores.

 

 

 
   
São gestos como esse que deverão marcar os tempos novos e os sentimentos de mudança do pensamento de esquerda no Acre e dentro do PCdoB e certamente representam o legado para as novas gerações na construção da nossa consciência política na atual conjuntura.

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