Keynes, Pelé e a Copa do Mundo

O período que vai do fim da segunda grande guerra até o início dos anos 1970 ficou conhecido como a era de ouro do capitalismo. Nessa época, o mundo desenvolvido, particularmente na Europa, passou a adotar políticas públicas que promoveram a

As políticas dos Estados de bem-estar passaram a ser chamadas de políticas keynesianas, referência ao economista inglês John M. Keynes. Percebeu-se na prática que o aumento dos gastos públicos, numa situação de desemprego e recessão, pode minorar períodos de apatia econômica e, de forma mais rápida, retomar o crescimento. A lição foi também aprendida na Grande Depressão de 1929: numa situação de forte recessão, as possibilidades econômicas ditadas pela “mão invisível” smithiana são muito difíceis em razão, entre outras coisas, dos ares pessimistas que tomam conta dos empresários nesses momentos. Não há porque investir e produzir se não há quem queira comprar.

Keynes na sua obra clássica “A Teoria Geral do Emprego do Juro e da Moeda” assinalava quais os fatores que explicam o nível de emprego no capitalismo. Tal como Marx, Keynes compreendia que a finalidade na produção capitalista era a transformação de dinheiro em mais dinheiro, a antiga fórmula conhecida como D – M – D’. Ou seja, o objetivo não é a acumulação de mercadorias, mas de riqueza sob a forma monetária. Isto significa que o dinheiro tem algo de especial que o faz cobiçado por si mesmo. Assim, em momentos de grande incerteza a função da moeda como reserva de valor alcança importância fundamental. Essa incerteza, segundo Keynes, é causada pela pouca capacidade de previsão sobre o futuro. “O nosso conhecimento dos fatores que regularão a renda de um investimento alguns anos mais tarde é, em geral, muito limitado e, com freqüência, desprezível” (1).

Deste modo, como não existe nada que garanta que as mercadorias produzidas serão vendidas futuramente, os empresários tentam se defender de perdas irrecuperáveis. Neste caso, o dinheiro serve como porto seguro contra possíveis turbulências no futuro. Porém, ao conservar seus ativos na sua forma mais liquida, isto é, o próprio dinheiro, ao invés de investir, os empresários geram uma demanda efetiva insuficiente e, logo, um baixo nível de emprego. De acordo com Keynes, os ciclos econômicos são justamente decorrentes das flutuações do investimento numa economia na qual sua finalidade é a acumulação de riqueza sob forma monetária.
 
É fácil observar que, a Copa do Mundo de futebol é uma excelente oportunidade para os negócios. As oportunidades surgem tanto para os produtores do comércio popular como para os grandes empresários; tanto para o pequeno vendedor de latinhas de cerveja até as multinacionais produtoras de refrigerantes. No Brasil é uma festa. País em que seu povo não se cansa de mostrar criatividade e perseverança, a possibilidade de ganhar um “dinheirinho” a mais nesta época está sempre presente. Para os desempregados pode ser um alívio. Por isso, é difícil calcular os investimentos e a renda que seria gerada caso a Copa de 2014 fosse realizada no Brasil.
 
Ainda lembro bem. Ano de 1985. O Brasil era candidato a sediar a Copa do Mundo e o nosso rei do futebol, Pelé, em diversas ocasiões se manifestou contra a sua realização no Brasil. O motivo, segundo Pelé, é que “a Copa não poderia ser paga com a fome do povo”. Ora, isto é um verdadeiro non sense.  Novamente, neste ano, por ocasião da disputa da sede da Copa de 2014, Pelé mais uma vez, embora de forma mais amena, retoma a mesma justificativa para questionar a validade da Copa ser disputada no Brasil. Vai entender…

Nota

1. KEYNES, John Maynard (1982). A teoria geral do emprego do juro e da moeda. Trad. Mário R. da Cruz. São Paulo: Atlas.

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