Lunáticos e estação lunar

Poetas, seresteiros, namorados, correi… Na canção escrita há 40 anos, Gilberto Gil temia não ter “mais luar pra clarear minha canção” e perguntava: “O que será do verso sem luar? O que será do mar, da flor, do violão?” A Lua sempre povoou o imaginári

Widson Porto Reis, engenheiro metalúrgico com mestrado em ciência dos materiais, fez um interessante levantamento sobre os mitos relacionados com a Lua. Crendices envolvendo comportamento violento, loucura, partos, corte e crescimento de cabelos etc. O físico Fernando Lang da Silveira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apresentou um estudo com 93.124 datas de nascimento, buscando indícios a favor ou contra a alegada influência da Lua sobre o nascimento de bebês. Ele lembra que “o líquido no útero da mãe (ou no bulbo capilar) não sofre efeitos de maré”, como acontece nos oceanos, o que é alegado para justificar o pretenso aumento de nascimentos a depender das fases da Lua. Ele constatou que o número de nascimentos oscilou em torno de 3.300 por dia (a amostragem envolvia 90% de nascimentos entre 1967 e 1983 e 10% de nascimentos entre 1930 e 1966). No dia posterior à Lua Nova ocorreram 3.425 e nos três dias antes da Lua Cheia aconteceram 3.210 nascimentos – estas foram as quantidades maiores e menores de nascimentos em torno de uma determinada fase da Lua. Lang da Silveira  conclui que “as diferenças no número de nascimentos ao longo do mês lunar estão dentro dos limites atribuíveis ao acaso” o que, portanto, “contradiz a alegação que nos dias das quatro fases principais da Lua aumenta o número de nascimentos”. Em 2002, o astrônomo Daniel Caton analisou mais de 70 milhões de registros de nascimentos ao longo dos últimos 20 anos e também apurou não existir relação entre a Lua Cheia e o número de partos.



A crença nos transtornos que a Lua causaria no cérebro e nos humores humanos resultou inclusive no termo latino lunaticu como referência aos atacados de manias. É outra crendice destruída pelas estatísticas. A Universidade de Saskatchewan, do Canadá, investigou em 1996, tendo à frente o psicólogo Ivan W. Kelly, possíveis efeitos da Lua em algum tipo de comportamento aluado e nada encontrou. Outros estudos também não encontraram evidências de maior incidência de crimes em relação às fases da Lua.



 


Quanto à “ciência” de aproveitar a melhor fase da Lua para cortar ou tratar dos cabelos, já rendeu – e continua rendendo – muitas filas em salões de beleza e muito comércio de cosméticos. O presidente da Sociedade Brasileira para Estudos do Cabelo, Valcinir Bedin,  informa que, independentemente da fase lunar, a média de crescimento mensal do cabelo é de 1 centímetro. ''A Lua não influi na maneira e na velocidade com que o cabelo cresce'', enfatiza.



 


Termino citando o artigo de Porto Reis, cujo endereço na internet segue abaixo: “Finalmente, o mito de que os ciclos menstruais são regidos pelos ciclos lunares envolve um mero probleminha de aproximação. O ciclo menstrual médio é de 28 dias (e isso porque apenas 30% das mulheres têm períodos que diferem de menos de dois dias da média), enquanto o ciclo lunar é de imutáveis 29,53 dias. A diferença de 1 dia e meio não perturbou nossos ancestrais que, inclusive, colocaram na raiz da palavra menstruação a palavra grega para Lua (menus). Em todo o caso, aqueles que vêem algo de espetacular no fato de que, entre todos os mamíferos, apenas a mulher apresenta um ciclo de ovulação mais ou menos parecido com o lunar, está negligenciando a pequenina cuíca, um marsupial semelhante ao gambá, nativo das Américas. A cuíca (opossum) também tem um ciclo de aproximadamente 28 dias. É de se imaginar o misterioso desígnio que reservaria unicamente às mulheres e cuícas um ciclo de ovulação quase igual ao lunar…”
http://www.projetoockham.org/boatos_luacheia_1.html

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