Mariana Bonora: Licença pra falar do movimento…
Em primeiro lugar eu peço licença para falar de Hip Hop. Peço isso porque muitas vezes eu me sinto invadindo uma realidade que não é muito minha, mas isso dura apenas alguns minutos, os iniciais normalmente. Assim como a psicanalista Maria Rita Kehl afirmou certa vez, o que nos aproxima dos manos é o mesmo sentimento de revolta e a vontade de mudar, nem que seja um pouquinho, essa realidade com a qual a gente convive todos os dias.
Publicado 30/06/2010 14:41
Acho que foi por isso que escolhi fazer jornalismo, um pouco utópica e ingênua a minha idéia sobre jornalismo, mas agente sempre precisa de um ideal para continuar na caminhada.
Acredito que foram essas paradas mesmo que me aproximaram do hip-hop, a iniciação foi ouvindo rap e depois a gente se dá conta que o ritmo e a poesia fazem parte de uma coisa muito maior. Acho que nem vira aqui fica falando sobre as proporções do barato porque até quem não quer ver, até pra quem não acreditou, não aceita e demais atitudes do tipo, é obrigado a enxergar a verdade – a revolução ta aí – e ela vem da onde tinha que vim mesmo, da periferia, da parte da população que conhece o verdadeiro rosto do Brasil.
Mas, voltando ao foco do que eu queria escrever aqui, depois desse primeiro contato fui meio que invadindo os espaços, porque eu queria participar de alguma forma, só o papel de fã do movimento não tava virando. A primeira invasão foi quando a gente analisou as letras de Sobrevivendo no Inferno para aulas de Teoria da Comunicação, um viés acadêmico, mas foi assim que fui entendendo a mensagem. A Fórmula Mágica da Paz foi a que mais marcou, as vezes o caminho da paz só vem com mágica mesmo.
A partir daí era pegar as brechas e ir entrando devagar na parada. Uma vez entrevistei o Thaíde e perguntei como ele entrou no hip-hop e ele deu uma resposta legal, falou que na verdade ele não encontrou o hip-hop, foi o contrário o movimento que encontrou ele. Pensando nisso eu posso falar que comigo a história foi diferente, eu procurei o barato mesmo, mas o caminho é a humildade. Como eu estou chegando agora e nem sei rimar, nem dançar, graffitar e muito menos riscar os discos entrei com o que eu tinha e pra fazer o que eu podia fazer – fui pesquisar o movimento – o aprendizado é o primeiro passo e com a troca de experiências você acaba ensinando também. E hoje eu posso colher alguns frutos disso e me sentir um pouco menos “invasora”.
Quanto aos frutos um é um trabalho de 80 páginas que gostaria de dividir, não acho que seria muito produtivo guardar na gaveta, e quem sabe um dia eu possa participar da “revolução escrita” anunciada pelo Ferréz; o outro é o programa na web rádio e o obstáculo é a exclusão digital em que se encontra a maioria do nosso público alvo, mas a gente está na caminhada pra levar o programa pra rádio aberta; e o mais importante é o que eu presencio em todo acontecimento do movimento hip-hop na minha cidade (a minha Bauru sem limites…). Não são apenas jovens dando giros de cabeça, rimando no microfone, comandando os scratchs ou colorindo muros, são jovens que até então eram meros coadjuvantes da chamada “cultura oficial” e hoje podem ser os protagonistas da sua própria história.
A gente só tem que se organizar contra a apropriação, pro barato não virar instrumento de assistencialismo. Por isso eu peço licença pra falar do movimento e agora a agradeço. Por enquanto eu ainda bato na porta antes de entrar e quem sabe um dia eu encontro ela já aberta. O importante é que estou trilhando o caminho e os espaços vão surgindo, mas nada vem de graça, ainda bem. E quem sabe numa próxima brecha eu possa falar das 80 páginas…
Mariana Bonora é estudante de jornalismo da Unesp- Bauru e apresenta o programa de hip-hop Direto da Quebrada na web rádio Mundo Perdido da Unesp (www.radiomundoperdido.tk)