Marolinha e galego de olhos azuis
O antecessor, FHC, tido como príncipe dos sociólogos (sic), se esmerava no uso de linguagem escorreita e não perdia a oportunidade de dialogar em idioma estrangeiro, num ridículo exibicionismo poliglota esquecido do dever de todo chefe de Estado de se exp
Publicado 16/04/2009 18:52
Lula prefere a linguagem do povo, o uso de imagens compreensíveis e de fácil assimilação em qualquer bate papo de esquina – mesmo quando trata de assuntos complexos, como a atual crise global e suas repercussões sobre o Brasil (inclusive diante de auditórios tecnicamente qualificados). Para ele vale a máxima de que comunicação é quando alguém fala e todos entendem.
Admitamos que em alguns casos tenha se descuidado – quando chamou de marolinha a crise que se iniciava, por exemplo. O descuido está em abrir o flanco para quem quer fugir da questão essencial: as condições que o país hoje reúne para sobreviver à crise fruto de múltiplas ações do atual governo e do rumo que vem trilhando. Ao invés de discutir as medidas anticrise e a aposta nas próprias potencialidades do país, os investimentos estatais em infra-estrutura, os esforços para manter o nível da produção e do emprego, os críticos contumazes (analistas da grande mídia ou próceres oposicionistas) fazem chacota ou distorcem o sentido das palavras do presidente. E como desejam que a crise de fato se aprofunde e que as conquistas populares se esvaiam, centram fogo na expressão marolinha.
Em linha semelhante, o comentário de um tal Alexandre Garcia, transmitido dias atrás em rede nacional de rádio, desperdiçando preciosos sete minutos (se não foi mais) com a bobagem de que, ao contrário do que afirmara o presidente, há banqueiros, sim, negros – e não apenas loiros e de olhos azuis. Ora, qualquer cidadão medianamente informado compreende que a alegoria feita por Lula tem o sentido de que a crise nasceu nos EUA, centro do sistema capitalista mundial, e não em países periféricos. O senhor Garcia preferiu tergiversar e fazer graça (sem nenhuma graça), ao invés de opinar sobre este ponto, sim, essencial.
Mas o que importa é que o povo entende. E a verve do presidente se mostra excepcionalmente útil à popularização de idéias e conceitos complexos e, por conseqüência, à elevação da consciência política da população. Ontem mesmo um taxista me dizia concordar com o prolongamento da redução do IPI para manter aquecida a venda de automóveis, a atividade das empresas acessórias das grandes montadoras e o nível do emprego. “É uma mão lavando a outra, doutor”, concluiu, sem deixar de completar: “Lula está certo.”
Com marolinha e galego de olho azul e tudo, tive vontade de completar.