Memórias da escravidão
Foi inaugurado em setembro o Museu de História e Cultura Afroamericana, na cidade de Washington (EUA). O espaço custou R$1,7 bilhão e está com ingressos esgotados até março de 2017. O motivo para tamanho investimento e interesse do público é que o local expõe artefatos inéditos sobre a história dos norte-americanos negros.
Publicado 03/11/2016 15:13
Uma das atrações mais procuradas pelos visitantes conta, na verdade, a história da escravidão no Brasil. A sala São José – Paquete de África simula o porão do navio que levava 223 escravos da Ilha de Moçambique até São Luís do Maranhão, cidade em que estive há duas semanas e é um museu arquitetônico a céu aberto. Na sala, são expostos lastros de ferro do São José e peças usadas em outras embarcações, como algemas e correntes.
É preciso lembrar que foram trazidos mais de 4,8 milhões de africanos escravizados ao Brasil, o que nos tornou o maior país escravocrata do mundo. Então, considerando esse nosso papel nefasto, vale perguntar: por que os Estados Unidos fizeram um museu sobre as memórias da escravidão antes que nós?
Porque somos um país que ainda não admitiu seu racismo e não reconhece suas origens. Um passo nesse sentido foi a aprovação da Lei 10.639/03, que instituiu a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-brasileira na rede escolar. Inclusive, na Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial, formamos mais de 33 mil professores capacitados para o ensino étnico-racial. Agora, a história pode ser contada do ponto de vista daqueles que sempre foram excluídos e silenciados por ela, trazendo à tona sua fundamental contribuição para a formação da sociedade brasileira.
Mas também precisamos de museus, que reparem simbolicamente nossa história e nos lembrem que construímos esse país. Conhecer a violência e crueldade do passado pode alertar para a violência e crueldade do presente, sempre presentes sob a forma da discriminação racial e do racismo.