Miremos la Colômbia
Toda vez que vou a um país da América do Sul ou me detenho na análise dos dados sociais, econômicos e geopolíticos de cada um deles, me convenço ainda mais da necessidade imperiosa de integração da America do Sul por intermédio do grande “país” chamado America do Sul.
Publicado 05/01/2010 09:20
Os 400 milhões de habitantes desse enorme “país” estão distribuídos no Brasil (197), Colômbia (49), Argentina (41), Peru (30), Venezuela (29), Chile (17), Equador (14), Bolívia (10), Paraguai (7), Uruguai (3,5). A Guiana tem 800 mil, Suriname chega aos 500 mil e a Guiana Francesa fica na casa dos 200 mil habitantes.
Essa população gigantesca habita uma área igualmente gigante: 17,85 milhões de km2, onde se encontra nada mais nada menos do que os 7,8 milhões de km2 da Amazônia, a maior floresta equatorial do planeta. Seria o maior país do mundo, suplantando os 17 milhões de km2 da Rússia, que atualmente é o maior país do mundo. Teria países gigantes como o Brasil (8,5 milhões de km2); países grandes como Argentina (2,78 milhões de km2), Peru (1,28 milhões de km2), Colômbia (1,14 milhões de km2), Bolívia (1,098 milhões de km2) e Venezuela com 912 mil km2); países médios e pequenos, como Chile (756 mil km2), Paraguai (406 mil km2), Equador (272 mil km2), Guiana (215 mil km2), Uruguai (176 mil km2), Suriname (163 mil km2), Guiana Francesa (83 mil km2), além de ilhas ainda sob domínio estrangeiro. Cada um com a sua particularidade.
O Produto Interno Bruto desse “país”, dolarizado, é da ordem de 03 trilhões de dólares. Pelo critério de PPP (Poder de Paridade de Compra), que estima o real valor de compra da renda de cada um, esse valor ultrapassa a casa dos 4,2 trilhões de dólares. A riqueza é bastante assimétrica. O Brasil lidera o pelotão com 2,113 trilhões, seguido da Argentina (593 bilhões), Colômbia (418 bilhões), Venezuela (334 bilhões), Chile (257 bilhões), Peru (257 bilhões), Equador (110 bilhões), Bolívia (47 bilhões), Uruguai (45 bilhões), Paraguai (29 bilhões). Fecham o pelotão as “guianas”, a Guiana com 4 bilhões e a Guiana Francesa e Suriname com 3 bilhões de dólares cada uma.
Por outro lado, tomo cada vez mais consciência de quanto às classes dominantes desses países foram nefastas às suas nações e ao conjunto do povo, mesclando, a um só tempo, mediocridade gerencial e servilismo ideológico extremado ao imperialismo norte americano.
O governo neoliberal de FHC, no Brasil, combinou tanto mediocridade gerencial quanto servilismo. A estupidez da sua política criminosa de privatizações e submissão acrítica aos Estados Unidos ficou evidente na atual crise do capitalismo, gestada precisamente por esse tipo de condução política e econômica mundo afora.
Os países que mais rapidamente saíram da crise, como o Brasil, debitam esses resultados ao fato de adotarem, no momento, política distinta da adotada pelo modelo neoliberal e terem preservado instrumentos de desenvolvimento nacional, como BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica e Petrobras, graças a mobilização do movimento social que impediu essas privatizações. Alem de terem feito um opção de comercio multilateral e não apenas com os Estados Unidos.
A Colômbia e o Peru são os únicos países da América do Sul ainda governados por conservadores, alinhados ao neoliberalismo e submissos ao imperialismo norte americano, com destaque para a Colômbia que hoje abriga em seu território várias bases militares norte-americana, colocando em risco a segurança e a independência de toda uma região. É um pais militarizado e fortemente monitorado pelos Estados Unidos, sob o pretexto de combater o narcotráfico que eles próprio alimentam ao serem os maiores consumidores de droga do planeta. Com certeza o povo colombiano quer e merece destino melhor do que esse.
Na verdade o objetivo maior dos EUA e do governo conservador de Uribe é impedir que a guerrilha colombiana, que se proclama socialista, se torne vitoriosa na Colômbia e provoque um efeito dominó pelo continente, isolando ainda mais os EUA.
Por que a Colômbia optou por esse caminho?´
A resposta não é simples e as causas são ainda mais complexas e variadas. Mas, sem dúvidas, uma das principais causas é a falta de unidade, de articulação, de compromissos mútuos entre os países do continente.
E nessa tragédia o Brasil comando por FHC e seus tucanos neoliberais, arrogantes com o povo e cordatos com o imperialismo americano, tem uma grande responsabilidade. Inviabilizaram o MERCOSUL e qualquer articulação sul-americana porque isso não agradava aos estados unidos e assim deixaram todos os demais parceiros sem alternativa a não ser adotarem a mesma postura de vassalagem. Cuba literalmente ficou sozinha sustentando todo o peso do bloqueio e do isolamento.
Daí a urgência da consolidação do país America do Sul. Estive recentemente na Colômbia. É um país extraordinário, povo alegre, amigo e com grande carinho e admiração pelo Brasil e hoje, também, pelo presidente Lula.
Os brasileiros e o Brasil não são vistos como intrusos. E nem poderia ser diferente. Somos irmãos, latinos, com problemas e com capacidade de resolver os nossos próprios problemas, como de resto todo o continente vem demonstrando. É claro que tanto lá, como aqui, se encontra uma classe média negativista, pessimista, que sob o pretexto de criticar eventuais erros de seus nacionais, revelam, no fundo, a velha submissão e alinhamento automático com os Estados Unidos. Estão na época da guerra fria, pararam no tempo e se consideram “modernos”.
Mas infelizmente a nossa ignorância sobre esses países é imensa. Foi com um misto de vergonha e tristeza que eu constatei que não sei a diferença entre a rumba, a salsa ou o merengue – músicas típicas da Colômbia. Os que me conhecem melhor e que geralmente são muitos generosos comigo ponderarão que eu não me ligo em música. É verdade. Mas eu sei perfeitamente a diferença entre rock e jazz.
Mas essas dificuldades nós superaremos juntos. O que importa é querer construir o nosso país, com ampla independência e autonomia, sem hegemonismos, solidário, fraterno e voltado para assegurar a paz e o desenvolvimento sustentado sobre o planeta terra.