Mudar ou retroceder

Há exatamente cinco anos, início de abril de 2003, ocorria na cidade de São Paulo a primeira reunião de articulação dos movimentos populares após a histórica vitória eleitoral de outubro de 2002. O objetivo central desta reunião era debater os rumos do go

Três grandes organizações convocaram a reunião: A CUT – Central Única dos Trabalhadores, o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e a UNE – União Nacional dos Estudantes. Em sintonia com essas organizações, várias outras entidades do movimento popular tiveram presença na reunião. Com base na realidade imposta pela crise social de dez anos de neoliberalismo, todas as organizações foram unânimes em afirmar que os rumos traçados pelo governo brasileiro, substancialmente na política macro-econômica, eram insuficientes para reverter o quadro de estagnação econômica e social que vivera o país no período anterior.


 


Outra importante avaliação construída nesta reunião e em outra que se seguiram, foi à constatação que a ruptura com o neoliberalismo e a construção de um novo modelo econômico e social demandaria muito mais esforço e mobilização da sociedade e dos movimentos populares, que uma mera eleição presidencial. Constatávamos que o neoliberalismo não era apenas uma intervenção econômica com implicações sociais, mas a construção e consolidação de novos paradigmas, muito mais sofisticados e alienantes.


 


Nos meses que se seguiram foi criada a CMS – Coordenação dos Momentos sociais. A crítica a política macroeconômica ficou ainda mais contundente com a política de juros elevada, os superávits primários exorbitantes e política cambial flexível, sem nenhum controle dos fluxos de capitais. Com as intervenções econômicas do governo nenhuma das metas propostas pela plataforma popular da CMS seria alcançada. Reforma agrária para um milhão de famílias, dez milhões de moradias populares, universalização de políticas públicas de educação e saúde, a criação de dez milhões de empregos, a redução da jornada de trabalho sem redução de salários, a reversão das medidas precarizantes nas relações de trabalho da era FHC, dentre outras.


 


Passaram cinco anos. O governo do Presidente Lula atravessou grandes tormentas, num mar revoltoso, sedento de mais neoliberalismo e de mais reformas liberais, de crises e escândalos transformados em crises institucionais, de um poder midiático nunca visto na história republicana. Contudo, de importantes avanços na política externa e de poucos na política econômica interna. Nesse mesmo período podemos observar pequenos avanços no emprego, na infra-estrutura, nas políticas sociais, nas políticas de transferência de renda, na educação e saúde, porém todas as medidas realizadas foram insuficientes para reverter a demanda social, historicamente reprimida pela burguesia brasileira.


 


 


Do outro lado da mesa permanece o movimento popular, agora mais fragmentado, mais dividido, (des) articulado em várias frentes, em vários segmentos, em dezenas de correntes de opinião, sem uma agenda unificadora, sem uma articulação que forje uma coesão e uma unidade necessária aos desafios que permanecem na ordem do dia. Neste universo, mesmo a revelia de todas as dificuldades e divisões do movimento popular, as demandas do povo continuam a espera de mudanças profundas e estruturais.


 


 


Nos próximos dias o abril vermelho do MST estará presente em todas as regiões do país nos próximos dias. Passados cinco anos a reforma agrária não saiu do papel e os confrontos são cotidianos. Os estudantes voltam às ruas para exigir mais verbas públicas para escolas e o fim da mercantilizaçao da educação; os trabalhadores e as centrais sindicais vão às ruas exigir salário digno, emprego e redução da jornada de trabalho, pois mesmo com a geração de postos de trabalho no último período as taxas de desemprego continuam em quase 10% da população economicamente ativa. A segurança pública, a política de saneamento básico, a infra-estrutura urbana e econômica, todas, aguardando atitudes mais profundas e definitivas do governo central.


 


 


Em meio a muitas contradições, de um governo que opera dentro das regras impostas pelo mercado, inclusive com possibilidade de avanços dos juros no próximo período e envolto a uma crise na economia mundial, é que se desenvolve a situação conjuntural. O movimento popular está fragmentado e dividido, as organizações partidárias da base do governo sem coesão tática e estratégica para derrotar definitivamente o neoliberalismo e construir uma nova ordem econômica e social, além da presença de uma oposição golpista e intransigente. É neste cenário que realizaremos, no segundo semestre, as eleições municipais em todo o país.


 


 


Nestes longos cinco anos o que se ouviu das análises de conjuntura era a necessidade de consolidar o novo modelo econômico e social a partir da transição, do modelo neoliberal para um modelo popular desenvolvimentista. Dissemos aos trabalhadores e ao povo brasileiro que a transição exigiria muita flexibilidade tática e rigidez nos objetivos estratégicos. Que mesmo sendo um governo contraditório e muitas vezes operando na lógica neoliberal (reforma previdenciária, política macroeconômica, política microeconômica) chegaríamos com mais consistência a esse novo e promissor Brasil.


 


 


Entretanto, os primeiros lances no tabuleiro das eleições municipais ocorrem de forma estranha e desarticulada ao processo político recente, proporcionando muita apreensão e desconfiança.  A tese do pragmatismo eleitoral vem sendo o rei e a rainha desses primeiros lances. Sem exceção, os atores políticos buscam a composição de chapas que mais credencia e facilita os projetos individuais, a vitória nas eleições municipais, e o governo de 2010, independentemente de qualquer conceito programático e ideológico, desconsiderando que o país vive um período transitório e contraditório.


 


 


Os ícones desta proposta são o Governador Aécio Neves, neoliberal de carteirinha, (onde esteve o Aecinho nos últimos vinte anos e que governo vem praticando em Minas Gerais?) e seu mais novo escudeiro, o atual prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (tecnocrata alçado a prefeito da capital mineira por ironia do destino). O objetivo de ambos, como também em outros municípios, é confundir o eleitorado, é se posicionar para as eleições de 2010 e assumir as rédeas do governo central, no pós Lula e aplicar definitivamente as políticas neoliberais que ainda não foram executadas.


 


 


Qual programa? Qual proposta?


 


 


Será o choque de gestão do Governador Aécio Neves?
Será a privatização da CESP do Governador José Serra?
Será a dispersão da esquerda brasileira?
Será a aliança eleitoral do PT e PSDB?
Será a unidade forjada pela cúpula sem a participação popular?


 


Conforme reza a tradição mineira as eleições municipais começam depois da Semana Santa. Contra a tradição não devemos lutar, porém contra a traição sim, devemos lutar e mais que lutar, denunciar e repreender. Aos oportunistas de plantão de todos os partidos e matrizes ideológicas devemos ainda clamar pela coerência ideológica e programática. Aos que continuam a sonhar com um país livre, democrático e soberano exigiremos vigilância e tenacidade. A esses dois extremos não restará alternativa se não o confronto, em todos os terrenos políticos e ideológicos. Combate e militância são as palavras de ordem.


 


Viva o abril vermelho do MST!
Viva a luta dos estudantes!
Viva a luta dos trabalhadores do Brasil!

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