Não é hora de se isolar e sim agitar a tática de ampla união

A bomba detonada pelo Intercept abriu um tantinho a mais da fissura que vem se verificando no seio das elites.

O jornalão O Estado de São Paulo, dileto porta-voz da conservadora elite paulista, deu o seu recado: Moro e o procurador do Power Point devem, mais que se explicar, pedir pra sair, a fim de não atrapalhar o revirar do lixo. Não escreveu assim , por óbvio, que burguês paulista mata e esfola, mas com civilidade. Quanto a Lula, bem… do jeito que o material foi obtido, não pode, segundo a tribuna dos Mesquita, ser usado como prova e tampouco serve para anular o já deliberado. Ou seja, "decapitem Moro e Dallagnol, mas mantenham Lula preso", diriam, se sinceros fossem.

Já o supremo ministro Gilmar Mendes encontrou sua oportunidade de contra-ataque contra a molecada lavajatista que resolveu colocá-lo na berlinda. Saiu de cima do processo de habeas corpus de Lula e mandou o bonde tocar.

Tanto a bomba, quanto seus efeitos, especialmente este último, assanharam certos setores da banda esquerda, que vêem nisso a oportunidade de dar mais gás a uma pra lá de manjada concepção hegemonista. Já tem ato sendo puxado unilateralmente pela liberdade do ex-presidente da República – sem dúvida, injustamente encarcerado. Nas redes, segmentos petistas e lulistas elegem como centro da ação, como tradução da luta democrática, a liberação do metalúrgico de seu cárcere em Curitiba.

Alguns comunistas, pejados das mais puras intenções, motivados pelo mais legítimo espírito combativo, saíram às redes pregando essa ideia, mas sem atentar que ela é política alheia à de seu Partido.

Até onde esse pobre teclador enxerga, o PCdoB vê a coisa toda de forma bem distinta: o material revelado pelo Intercept não libertará de um átimo Luiz Inácio; antes, confirma a necessidade de se agitar com mais força a tática dos comunistas apontada por seu Comitê Central: União de todas as forças possíveis em defesa da democracia, do Brasil e dos direitos de sua gente.

Dito de outra forma: não cabe neste momento cairmos na armadilha do isolamento montada por certos segmentos. A liberação de Lula relaciona-se com a mudança na correlação de forças. Essa mudança só ocorre se unirmos amplos setores. A liberdade do ex-presidente subordina-se à luta em defesa da Democracia. O que está em jogo é o Brasil, sua soberania, sua democracia, seu povo. Todo o militante do Partido deve agitar as bandeiras de seu Partido: unir o Brasil em defesa da democracia, do estado de direito, da justiça, dos interesses nacionais. Isso significa operar a construção e o fortalecimento da ampla frente democrática, em nível nacional, local ou setorial, propondo atos amplos, reuniões de articulação, e, nos próximos dias, conferindo à Greve de 14 de junho  este conteúdo de defesa da democracia e do Brasil contra seus inimigos, contra a extrema-direita, contra Moro e Bolsonaro. Esse é o caminho de acumular forças para o povo e os trabalhadores e de melhor situar politicamente o PCdoB e fortalecê-lo.

Iniciativas isoladas, ou reativas, não colaboram com a construção necessária de um amplo movimento – movimento que deve contar, a cada passo, com inúmeras forças e atores, com todos os que tenham um mínimo de contradição com o governo e com a extrema-direita.

Iniciativas açodadas, reativas, acabam, mesmo bem intencionadas, jogando água no moinho do hegemonismo, de um lado, e dos inimigos do povo, de outro.

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