Nos salões e nas ruas

É possível que o primeiro pronunciamento da Frente Brasil Popular – o Manifesto ao Povo Brasileiro, lançado sábado último, em Belo Horizonte – exiba certa dispersão, pela multiplicidade de bandeiras, e careça de foco, tendo em conta a gravidade da crise atual e a necessidade de uma ação imediata e certeira.

Também é possível divisar uma mescla entre bandeiras estratégicas e táticas, talvez sem a devida consideração da correlação de forças em presença.

Defeitos que não lhe subtraem representatividade e capacidade mobilizadora, que a fazem apta a ocupar os salões e as ruas. E é mais do que oportuno que assim seja.

A complexidade da crise e a confusão ideológica estabelecida, sobretudo via complexo midiático e com ressonância entre correntes populares, reclamam intenso debate, que esclareça, faça convergirem para um mesmo leito concepções afins e gere um pensamento compreensível e capaz de galvanizar multidões.

O fator rua, concomitantemente, está posto na ordem do dia. Sem a mobilização “dos de baixo” a crise terá desdobramento conforme os interesses apenas ou quase exclusivamente em favor “dos de cima”.

Daí a absoluta necessidade de se avançar simultaneamente em dois sentidos: concretizar a Frente no âmbito dos estados e municípios, para lhe assegurar dinamismo na base; e fortalecer o Dia Nacional de Mobilização, anunciado para o próximo 3 de outubro, quando os movimentos sociais farão manifestações em todo o país em defesa da soberania nacional e da Petrobras.

Preservar a democracia e retomar o crescimento em bases soberanas e socialmente inclusivas não é tarefa fácil no atual quadro mundial e brasileiro. A crise aqui, ainda que guarde peculiaridades próprias, integra o impasse mundial.

Aqui, tanto quanto mundo afora, opera com força o braço onipotente do capital financeiro – que, à semelhança de um gás venenoso, influencia e tenta dominar todos os ambientes.

Faz-se forte, inclusive, na disputa de rumos no interior do governo brasileiro.

Assim, tal como em episódios marcantes de nossa História, há que se valorizar a busca de alianças amplas, com toda a flexibilidade que a realidade exige, e ao mesmo tempo mobilizar a verdadeira força motriz da transformação social, ora em boa parte aglutinada na Frente Brasil Popular.

Uma combinação entre a chamada “grande política” e a mobilização social “pela base”.

Debater e construir alianças várias é preciso. Ganhar as ruas também é preciso.

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