O abraço nazista de Bolsonaro

Em seu encontro com Beatrix von Storch, liderança do partido neonazista alemão, AfD, Bolsonaro sela sua relação com íntima com o fascismo

(Foto: Reprodução)

O encontro do Mandrião com a deputada alemã, Beatrix Amelie Ehrengard Eilika von Storch, não seria alvo de grande repercussão se a parlamentar não fosse uma líder importante do partido Alternativa para a Alemanha, em alemão AfD, o partido que hoje é o maior representante do nazismo, e saiu das urnas de 2017 como o terceiro maior partido da Alemanha, com 94 dos 709 deputados da Assembleia Federal da Alemanha.

A visita dessa nazista assumida revela o status que é conferido a Bolsonaro, presidente do maior país da América Latina e um dos maiores do mundo, representando, para a extrema-direita nazista uma das últimas trincheiras das suas ideias, visto que Trump foi derrotado eleitoralmente e Orban, embora seja um dos representantes dessa extrema-direita, governa um pequeno e pouco influente país da Europa, a Hungria.

É bom lembrar que o AfD, nasceu em 2013, fruto de uma convergência de grupos extremistas e desde pronto condenando a Zona do Euro e as políticas alemãs em relação aos países mais pobres do Sul da Europa, além de forte discurso anti-imigração e o casamento de pessoas de mesmo sexo.

Em março de 2020, o Escritório Federal para a Proteção da Constituição classificou a AfD como um esforço extremista de direita contra a ordem básica democrática livre e como “não compatível com a Lei Básica e, portanto, colocada sob vigilância de inteligência. No início de março de 2021, a maioria dos principais meios de comunicação da Alemanha relatou que essa mesma agência havia colocado toda a AfD sob vigilância como um “grupo extremista suspeito”.

Propaganda anti-imigração do partido alemão AFD I Foto: GettyImages

Em janeiro de 2017, Björg Höcke, uma das lideranças do AfD, declarou em um discurso, em referência ao Memorial do Holocausto de Berlim: “Os alemães são as únicas pessoas no mundo que plantam um monumento de vergonha no coração da capital” e criticou esta “política risível de chegar a um acordo com o passado “. Höcke afirmou, na ocasião, que a Alemanha deveria dar uma volta de “180 graus” no que diz respeito ao seu senso de orgulho nacional. A política de “revisão histórica” rapidamente tornou-se um discurso predominante nas organizações de extrema-direita no mundo.

O encontro de Bolsonaro com Beatrix von Storch, que, de fato teve um avô participante ativo do governo nazista da Alemanha, revela o mergulho do bolsonarismo no nazismo e isso o torna um inimigo jurado da democracia, o que não é nenhuma novidade, mas que, com essa aproximação fogosa, reforça a tese de que é necessário formar uma grande aliança pela democracia, pela civilização e pela vida.

A naturalização do bolsonarismo, como corrente política, tem levado muitos analistas políticos a tratá-lo como mais um componente da luta político partidária do BraZil e, com isso, o elemento nazista presente no pensamento e ação da horda bolsonarista é secundarizada. Parece que nossa memória ou encolheu-se ou apagamos miseravelmente o fato de que, quando do surgimento do Integralismo, na década de 30, uma criação do fascismo tupiniquim, chegamos a ter o maior partido nazista fora da Alemanha.

É óbvio que o abraço nazista, ocorrido dentro das dependências de uma país que tem um Constituição e que, no plano internacional, sempre se bateu pode defender a democracia, agora vê o quanto nos afundamos no atraso e como estamos ameaçados, concretamente, de termos um governo ditatorial nazista em pleno século XXI.

Exagero? Talvez, mas é bom sempre ficar atento pois Bolsonaro mantém um importante segmento da população próximos das suas “não ideias” e aparentemente tem um chamado “núcleo duro” de apoiadores fanáticos, em torno dos 10-15% dos eleitores o que, convenhamos, é muita gente.

Seria bom que as forças de oposição começassem a discutir seriamente essa frente ampla, se é que ela vá existir, pois quanto mais o tempo avança, o Mandrião poderá encontrar força e apoio não apenas para se manter no poder, mas pode, inclusive, utilizando o velho clientelismo, consolidar o apoio do Centrão, que certamente fechará os olhos para o nazismo bolsonarista e abrirá os bolsos para serem regiamente recompensados.

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