O apocalipse frustrado

Na década de 80 alguns ecologistas vaticinaram que a floresta amazônica acabaria em 50 anos. Ancoravam sua afirmação apocalíptica tendo por base a taxa média de desmatamento da região, até então da ordem de 21.000 km2 (ou 2.100.000 hectares) ao ano.

Os dados recém-divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE/PRODES) informando que o desmatamento da Amazônia no período 2011 a 2012, tomando como referência o mês de agosto, foi de 4.656 km2 e se situa na sua menor série histórica, frustra o apocalipse. Mas mesmo que se mantivesse essa taxa de 21 mil km2 ao ano seriam necessários 167 anos para eliminar os 3,5 milhões de hectares da floresta amazônica. A área total desmatada até 2012, segundo o INPE/Prodes, é de 396.857 km2, o que equivale a 7,2% da área total da Amazônia legal.

Por que esse tipo de informação ganha ares de “verdade” e tem guarida até mesmo em revistas conceituadas que, assim, endossam tais opiniões claramente tendenciosas?
Porque o assunto não é de natureza técnica e sim ideológica. Trata-se de uma luta que envolve distintas concepções, interesses econômicos antagônicos e por isso mesmo não tem data para o combate final, que certamente não ocorrerá. Se arrastará por anos, às vezes de forma sutil, outras de forma estridente e algumas poucas vezes buscando mediações quando a correlação de forças assim determina. Envolve, fundamentalmente, a definição quanto à finitude ou não dos recursos naturais, sintetizadas como produtivistas e santuaristas.

Os primeiros advogam que os recursos são infinitos e, no extremo, serão substituídos por similares; o segundo grupo sustenta que a o planeta chegou ao limite, que não tem como suprir as necessidades da humanidade e defendem, portanto, o congelamento dos recursos naturais.

Não é a primeira e tampouco será a última vez que previsões catastrofistas, alarmistas ou simplesmente tendenciosas serão desautorizadas pelos fatos e desmoralizadas academicamente, o que não impede que elas ressurjam com outra roupagem, na medida em que são manifestações políticas, ideológicas e não mero equívoco técnico.

Malthus, por exemplo, sustentava que haveria uma epidemia de fome pela incapacidade da humanidade produzir alimentos na proporção de seu crescimento populacional. Sua tese está inteiramente desmoralizada. A fome no mundo não é por falta de alimentos e sim pela incapacidade das pessoas comprarem comida em decorrência da brutal concentração de riquezas, tanto em torno da burguesia, enquanto classe social, quanto em torno das nações imperialistas, tendo como símbolo os Estados Unidos da América.

Isso não impede, todavia, que dezenas de cientistas adeptos da concepção santuarista levem adiante, com outra roupagem, a sua pregação reacionária. Dentre esses pregadores contemporâneos estão os defensores do “crescimento zero”, liderados pelo Clube de Roma, que objetivam restringir o desenvolvimento econômico das parcelas mais pobres da população para que os recursos naturais disponíveis não faltem para os que já acumularam um grande padrão de desenvolvimento econômico. Essa é a síntese dessa teoria reacionária.

Seus defensores, como Malthus, Garret Hardin, Clube de Roma, etc, são metafísicos, negam o materialismo histórico, desconhecem que tudo está ligado, interconectado e interdependente e que, dialeticamente, a humanidade não se põe problema que não possa resolver.

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