O circo da Otan e o palhaço das perdidas ilusões

Há um mês atrás, terminávamos uma nota sobre a Líbia apontando para a já bem visível perspectiva de que os bandoleiros do Pentágono e da Otan aproveitassem o confronto entre partidários e adversários de Khadafi para tentar acertar as contas com este. Aos que, para justificar sua simpatia pelos rebeldes, alegavam os muitos defeitos do chefe líbio, observamos que se a intervenção do Pentágono e sócios se confirmasse, nenhuma hesitação seria possível: os imperialistas não costumam apoiar movimentos sociais nem bombardear seus próprios aliados. Por isso, qualquer que fosse a avaliação que tivéssemos a respeito de Khadafi, duas constatações se impunham: (a) ele não estava blefando quando anunciou que iria resistir à bala; (b) cacarejando como de costume “dimócraci”, “interneixonal comiuniti”, “iuman raits” e outros chavões, que via de regra anunciam uma chuva de mísseis, os imperialistas da Otan preparavam-se para intervir a favor dos rebeldes.

Sem dúvida, o forte contágio da rebelião do povo tunisiano, seguido pelo povo egípcio, explica o desencadeamento da mobilização popular na Líbia. Mas desde o início esta nova rebelião apresentou aspectos peculiares: os rebeldes desfraldaram a bandeira da corrupta monarquia do rei Idris, capacho do imperialismo e em particular dos trustes petroleiros; eles assumiram o controle de Benghazi, com a metade leste do país, ao passo que Trípoli e o oeste permaneceram do lado do governo, de modo que o confronto assentou-se desde logo sobre uma base regional, ao passo que na Tunísia e no Egito seu caráter foi nacional.

Khadafi passou à contra-ofensiva durante as primeiras semanas de março, investindo contra Benghazi. Quando ele parecia dominar a situação, a Onu, que costuma assistir, entre impávida e resignada, aos massacres balísticos que coroam as agressões coloniais da Otan e do facho-sionismo (às vezes protestando um pouquinho no começo, mas logo aceitando a lei do mais forte), “resolveu” autorizar a formação de uma “coalixam” para proteger os líbios dos ferozes e brutais bombardeios a que estavam sendo submetidos por seu próprio governo. Obediente, a “interneixonal comiuniti” criou uma zona de massacre aéreo em território líbio. Essa sinistra e sangrenta palhaçada era previsível Como enfatizou um militante anti-imperialista atuante na lista Diaspora Latina, “a besta imperial por fim poderá saciar sua sede de sangue e de petróleo ao lograr que seus títeres no Conselho de Segurança da ONU votassem a favor de una intervenção militar contra a Líbia para aplicar a mesma fórmula dos Balcãs: desmembrar a grande nação africana e impor “governantes” cipayos que permitam o saqueio de seus recursos naturais”.

No dia 19 de março, Baraquiobama, patético palhaço das perdidas ilusões, seu sócio britânico Camarão e o saltitante cripto-fascista que governa a França, passaram ao ataque. “Coalizão bombardeia Líbia com 20 caças e 110 mísseis”, anunciou O Globo de 20/3/11. O estrago que a “coalixam” fez nos dias seguintes para proteger os “iuman raits” foi enorme. Mas era preciso ajudar os “rebeldes” seus protegidos a reverter a correlação de forças no campo de batalha. Com país petroleiro não se brinca. Confirmando a estupidez de seus meganhas, que em território nacional humilharam senadores brasileiros e fecharam a Cinelândia no Rio de Janeiro (inclusive a Câmara Municipal) para garantir sua segurança, o chefe do Império ordenou os bombardeios humanitários na Líbia quando pisava nosso solo.

Fim de março Khadafi recua, Trípoli sofre pesados bombardeios, os “rebeldes” (monarquistas, islâmicos radicais, oportunistas de modo vário etc.) exultam. Graças à Otan, estão perto do botim da vitória. Também estão felizes os consumidores do famigerado Ocidente. Valor de troca nos informa (29-3-11, p. B13): “Avanço dos rebeldes na Líbia segura alta do barril”. O asrgumento dos mísseis continua funcionando.

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