O Eternauta e a luta de Oesterheld contra a Ditadura Argentina
O Eternauta tem memória e não esquece a família de seu criador Osterheld destruída pela ditadura Argentina
Por Thiago Modenesi*
Publicado 05/05/2025 16:16 | Editado 05/05/2025 16:20

O Eternauta, clássico quadrinho argentino criado por Héctor Germán Oesterheld e Francisco Solano López (1957), narra uma invasão alienígena em Buenos Aires, mas sua trama transcende a ficção científica. Sob a alegoria, está um potente chamado à resistência coletiva, reflexo do compromisso político de Oesterheld, que se opunha a regimes autoritários.

Durante a ditadura militar argentina (1976-1983), Oesterheld, simpatizante do Partido Comunista, depois integrante da organização político-militar Montoneros, tornou-se um alvo. Sua obra foi proibida por exaltar a luta popular, vista como “subversiva” pelo regime. A perseguição culminou em seu sequestro em 1977, seguido pelo desaparecimento de suas quatro filhas (Estela, Diana, Beatriz e Marina, uma grávida inclusive), todas militantes de movimentos sociais. A família Oesterheld simboliza o terror da repressão: cinco vidas apagadas pela máquina ditatorial.
A segunda parte do Eternauta (1976), escrita durante o início da ditadura, radicalizou o discurso político, o que selou seu banimento. A história, que mostrava heróis comuns enfrentando opressores, ecoava a resistência clandestina da época.
A série da Netflix “O Eternauta” reimagina a obra, transportando-a para uma Buenos Aires contemporânea, sendo estrelada pelo astro local Ricardo Darín. Embora menos explícita politicamente, a adaptação revive o legado de Oesterheld, introduzindo novas gerações à sua mensagem de resistência. A série, ao mesmo tempo que homenageia o original, lembra o preço pago por seu criador: uma família inteira sacrificada na luta contra a tirania.

Um fato marcante no país de origem do criador do Eternauta foi a cidade de Buenos Aires estar no lançamento da série com os seus mini-outdoors marcados por cartazes da família Osterheld, uma manifestação da indignação com os assassinatos e truculência da ditadura que foi noticiada nos meios de comunicação argentinos e repercutiu pelo mundo que não se conforma com os “desaparecidos” políticos do regime.
Oesterheld e o Eternauta permanecem como testemunhos da arte como arma de denúncia. Sua história é um alerta contra o silêncio e um tributo à coragem daqueles que, mesmo sob escuridão, ousaram imaginar um futuro de liberdade.
Assista o trailer aqui.
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