O fascista, o sociopata e a radicalização

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Foto: Ansa/Ansa-Brasil

O Brasil vive, nos dias atuais, a tenebrosa singularidade – única na história republicana – de possuir um presidente a um só tempo fascista e sociopata. Essa combinação tem se motrado explosiva. E é movido por tal dualidade que Bolsonaro reage – sempre com virulência – tanto às críticas cada vez mais contundentes ao desastre social e econômico a que ele está levando o Brasil, quanto ao avanço da CPI da Covid-19, que o vem condenando por suas responsabilidades no enfrentamento da pandemia.

Ambos os traços – fascista e sociopata – estão em plena conexão um com o outro, em estreita simbiose que orienta a postura de Bolsonaro diante da realidade, sobretudo quando ela se apresenta hostil. Ou seja, cada uma de suas atitudes contém, em maior ou menos grau, essas duas características, com predomínio ora de uma, outra, ora do fascismo, ora da sociopatia.

Bolsonaro apresenta-se descontrolado diante dos trabalhos da CPI, que vão expondo com fatos irrefutáveis É crescente sua exasperação. Em várias ocasiões atacou o relator Renan Calheiros, chamando-o de picareta e vagabundo. Insultou membros da CPI que não rezam por sua cartilha. Ataca com crescente virulência governadores e prefeitos, em particular o governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB. Diante do histórico encontro entre os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso, xingou um de ladrão o outro de vagabundo. E daí por diante. Os modos com que realiza tais investidas, sempre aos gritos e palavreado chulo, revelam a predominância do sociopata.

O fascista está presente, como dominante, quando defende o retorno do voto impresso, quando utiliza a Policia Federal como uma espécie de polícia política a seu serviço, quando participa (e, algumas vezes, promove) manifestações de apoio com insultos ao STF e histéricos pedidos de intervenção militar, quando procura arregimentar apoios em segmentos como caminhoneiros, motocilistas, evangélicos e milicianos, quando ataca a China, quando ofende a educação e a cultura e, sobretudo, quando age em benefício do coronavírus, favorecendo aglomerações, atacando vacinas e máscaras.

O fascismo, em Bolsonaro, também serve-se do simbólico, quando promove desfiles de motociclistas e chega a cavalo em manifestações em Brasília. Precisa mostrar virilidade e destemor. Não custa indagar se acaso imita o fascista italiano Benito Mussolini, que vivia desfilando com sua motocicleta Bianchi 175 Flecha de Ouro, ou então a cavalo.

A patologia

A psicopatologia que atinge Bolsonaro e modela seu comportamento é fundamentada pelo psiquiatra Nelson Nisenbaum, que em fins de abril falou longamente a respeito no programa Um Tom de Resistência. Vale a pena relembrar. Para o especialista, “se analisarmos sob o ponto de vista do elemento que desagrega, desorganiza, planta desconfiança, não reconhece o sofrimento do outro e não compreende os valores éticos e morais dessa sociedade, pregando sempre a favor de sua visão particular de mundo, podemos compreender facilmente que o presidente Jair Bolsonaro é um sociopata”.

Nisenbaum estabelece um nexo entre a doença psicológica do presidente e sua prática política. A desorganização que ele promove no país, “é praticamente um item fundamental do neoliberalismo que ele representa”, afirma. E acrescenta: “Ele é a figura perfeita do ultraneoliberalismo e do radicalismo de direita, porque ele tem, através de uma certa forma de apelo emocional que conquista um determinado perfil de eleitor, essa capacidade de exercer essa força desestabilizadora. É o perfil de um sociopata na dimensão política”. Nisenbaum ainda citou alguns traços da personalidade de Bolsonaro, a começar pela imaturidade. “Ele apresenta uma grande dificuldade de entrar em profundidade sobre qualquer assunto”, diz. E completa: “Suas abordagens são imediatistas e superficiais, o que nos dá a clara impressão de estarmos diante de um adolescente de 12 anos de idade. Essa é a estimativa de idade mental que faço para ele.” Ele também destacou a impulsividade do presidente, sobretudo diante de questões que não quer ouvir. “É uma mania persecutória e paranoide”, arremata.

Por fim, Nisenbaum acredita haver algo de genético na família Bolsonaro, uma vez que o presidente e seus quatro filhos compartilham determinadas peculiaridades de personalidade. Não é por menos que, em meados de maio último, um grupo de advogados e professores universitários de São Paulo pediu ao STF a interdição de Bolsonaro por “incapacidade civil de exercer o cargo e suas funções”.

Eis alguns aspectos sombrios da tragédia brasileira dos tempos atuais.

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