O porquê da “caçada” ao senador Calheiros

A mídia, braço armado do conservadorismo, desde 25 de maio realiza uma “caçada” ao senador Renan Calheiros. A “matilha” que está ao encalço do presidente do Senado não demonstra cansaço. Sente cheiro de sangue no ar e isso a excita e a estimula. O senador

Seria apenas um lance a mais do moto-contínuo da mídia de enxovalhar o Congresso Nacional, de explorar ao máximo suas mazelas e limitações? Isso existe, mas no caso a motivação principal é outra como se verá.


 


Aos autos e aos fatos.


 


A revista “Veja” cuja reputação dispensa comentários, em matéria de capa, denunciou que o senador pagava pensão para uma filha através de um funcionário de uma empreiteira. O senador afirmou que o tal funcionário é seu amigo e que recorreu a ele pelas circunstâncias. E afirmou e apresentou documentos de que os recursos da pensão à filha e à mãe são oriundos de seus próprios rendimentos. Os documentos foram questionados. A rede Globo fez uma “diligência” em Alagoas e contestou a documentação. A Polícia Federal apresentou um parecer incompleto e dúbio.


 


Em suma a vida do senador foi e está sendo vasculhada na esfera pública e privada e até agora: acusações e ponto. Fato comprovado, apenas um: o senador tem uma filha fora do casamento. Nesse quesito, no Senado e alhures: atirem a primeira pedra….


 


 


O jornal Estado de S. Paulo, frontal como sempre, quando se trata da defesa dos interesses do conservadorismo, logo de cara, num rito sumário, elaborou a sentença, publicou o veredicto: Ou cai o senador, ou cai a Casa.


 


E o direito à ampla defesa? E o preceito de que qualquer cidadão é inocente até que se prove o contrário? Às favas. Isso é “arenga de corrupto maquinando fuga”, dizem os analistas. E quando alguém reage a erros e equívocos veiculados pelos meios de comunicação, o sindicato do monopólio midiático acusa: a liberdade de imprensa está sob ameaça!


 


A mídia que se arroga pilastra indispensável da democracia é a primeira golpeá-la. Seus editoriais para muito além de textos que emitem idéias e opiniões têm ambição de se tornarem sentenças judiciais de tribunais de última instância. No limite, se prevalece essa lógica o país se tornará uma “terra sem lei” ou uma terra onde as leis serão ditadas pelo conluio conservadorismo e monopólios da mídia.


 


Com a “matilha” mordendo-lhe os calcanhares, com a sentença de morte já lavrada mesmo antes de o Conselho de Ética chegar a qualquer conclusão, o senador Renan reuniu colegas de seu partido e de outras agremiações para enfrentar a caçada. Logo, veio a denúncia de que o senador constituíra uma “tropa de choque para evitar a cassação”. É outra característica deste tipo de “cerco e aniquilamento” da mídia: uma vez o veredicto proferido o réu deve se portar com a resignação de uma ovelha que vai à tosa ou de um cordeiro que vai à degola.


 


Com passar dos dias da “caçada”, os próprios articulistas dos jornalões começaram a escancarar a motivação política que estava encoberta na cruzada moralista. Diziam eles: “Qualquer que seja o desfecho do caso Renan, o governo Lula sairá perdendo.”


 


O presidente Lula conseguira a proeza de agregar em torno de seu governo, praticamente, todo o PMDB. Além do PMDB, uma dezena de partidos. Uma coalizão a maior que se tem notícia na história recente. O crescimento da economia aquecendo-se. O quadro externo favorável. Os índices de aprovação ao governo e ao presidente em linha ascendente.


 


O conservadorismo e seu complexo midiático refeitos, no fundamental, da derrota sofrida, obviamente, entenderam que é preciso agir, do contrário é grande a chance de Lula eleger seu sucessor.


 


A sanha para “caçar” e cassar o senador Calheiros vem da convicção de que se a degola for efetivada, esse comboio partidário que hoje sustenta o governo Lula sofrerá avarias. No mínimo a coesão peemedebista em torno de Lula será quebrada, daí porque a determinação de “quebrar” o senador.


 


A motivação política fica também evidente com a tomada de posição do DEM e do PSDB. As lideranças desses partidos proclamam que não aceitam o presidente do Senado presidir as sessões que irão aprovar a LDO. Ora, o presidente do Senado responde a um processo no Conselho de Ética, esse processo será instruído, ao final haverá um desfecho sob á égide do Direito e do regimento da Casa. Mas, até a presente data o que há são denúncias. Nada contra ele foi comprovado. Ao adotar tal atitude DEM e PSDB pretendem paralisar o Congresso e desagregar a ampla aliança que se formou para respaldar o governo Lula.


 


A “caçada” está longe de terminar.


 


A oposição que se encontrava combalida agarra-se nesse galho para se levantar. Sabe que se “cassar” Renan ou levá-lo à renúncia ganhará dividendos na opinião pública e provocará um furo no casco da nau governista. A mídia lavrou a sentença de degola e se ela não for efetivada uma vez mais se sentirá ultrajada. Ano passado uma sentença de mesmo teor foi proclamada contra Lula. O povo rasgou tal sentença. E agora se o fato se repetir daqui a pouco tais sentenças terão o mesmo valor de latidos de cachorro vira-latas. Assim pensa a grande mídia, por isso ela não vai recuar.


 


A oposição e o monopólio midiático com essa investida contra o senador Calheiros  e outra realizada contra um irmão do presidente Lula  conseguiram “poluir”o cenário do país. Pouco se diz dos êxitos do governo  e passa-se a imagem de um país atolado na corrupção e em escândalos .


 


Desse modo, é justo e necessário que a base do governo e o senador Renan também não recuem e que prossigam com o bom combate. Trata-se de luta política, de luta pelo poder envolta numa cruzada de falso moralismo.


 


Quanto às denuncias de improbidade que sejam investigadas, que o processo seja instruído com base das leis do país e do regimento do Senado. Que a conclusão, que a “sentença” seja proferida por quem de direito e nos marcos do Estado democrático de direito.


 


Quando a democracia brasileira estiver mais madura quem sabe o complexo midiático terá apreendido que lhe cabe informar, formar, entreter, interpretar, opinar, denunciar, etc. Lavrar sentenças a Constituição não lhe deu poderes para tal.

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