O show vai continuar

A comemoração dos 88 anos do PCdoB em São Paulo foi marcada principalmente pela publicidade da filiação da Leci Brandão ao Partido. O local do evento ficou animado ante a perspectiva da militante Leci fazer mais um de seus belos e eloqüentes discursos.

A atividade me fez recordar quando eu a conheci na década de 80, acho que era um comício ou “showmício” promovido pelo Fião da Chic Show, então candidato a Deputado Estadual, pelo PMDB, que lançava a época Orestes Quércia ao governo. Era precisamente julho de 1986. Suas músicas já eram conhecidas por nós que animávamos as rodas de samba no Belenzinho (MOOCA) sob os protestos veementes do Carioca, cidadão de bem já falecido que não era muito chegado aos versos “Papai vadiou, mamãe dançou e por isso eu aqui estou…” que fez sucesso na voz da Leci por aqueles anos.

Realmente foi uma alegria pra mim e tenho certeza que muitos outros que como eu enfrentamos uma certa incompreensão do partido no estado, que meio sisudo, não via com bons olhos o nosso envolvimento com o pagode. Mas isso já faz parte de um passado longínquo. Ainda bem, pois, desde aquele showmício eu fiz o que pude para, sempre que possível, envolvê-la nas atividades políticas. E lá se vão mais de duas décadas. A campanha da Luiza Erundina em 1988, do Lula em 1989, do Plínio em 1990, do Zé Dirceu em 1994, Marta em 1998, 2000 e Lula em todas as outras. Ainda a de 2002, onde talvez mais trabalhamos juntos, seja com o candidato majoritário, ou com os nossos proporcionais. Por toda esta trajetória, pela relação de respeito profissional, respeito militante e acima de tudo por Leci ser uma voz firme em defesa dos oprimidos. Apresento aqui como uma singela homenagem um artigo que escrevi aqui mesmo neste portal um pouco antes da vitória do Presidente Lula!

“Carioca, nascida em Madureira, vinte e sete anos de carreira. A cantora, compositora e percussionista Leci Brandão lança um CD que tem como "gancho" a homenagem à sua mãe dona Lecy que completa oitenta anos. Apesar disso, nós que iremos desfrutar do presente dessa famosa e muito simpática quituteira.

Produzido por Ivan Paulo e Osmar Costa (empresário e fiel escudeiro), o disco ficou muito bom!

O fato de ter sido gravado ao vivo ajudou muito. Boa de palco, Leci contagia o público em seus shows. Entremeia seus inesquecíveis "Partidos-Altos" com discursos cortantes, politizados e críticos. Difícil separar a artista da militante e ela trabalha isso muito bem no palco.

Na verdade, o CD também vem coroar uma carreira vitoriosa que parece estar vivendo seu apogeu. É uma pena que a grande mídia só tenha percebido (ou permitido?) isso agora.

Afinal quem gosta da boa música, do bom samba, do chamado "samba raiz" sabe que Leci Brandão é nome destacado da nossa cultura musical.

Recebeu prêmio como compositora porque, afinal, foi a primeira mulher a integrar a ala de compositores da escola de samba "Estação Primeira da Mangueira" como cantora e como militante política.

Entre outros prêmios e honrarias recebeu a medalha "Pedro Ernesto" no Rio de Janeiro. É "Cidadã Paulistana", "Cidadã Mato-grossense" e, vejam só, "Comendadora de Alagoas".

Além disso, foi empossada recentemente no Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. A primeira artista a integrar o CNDM.

Mas, voltando ao CD, "a Tiazinha do Pagode" – como é tratada carinhosamente nas rodas de samba em São Paulo -, acompanhada pelo grupo Sampagode e os músicos Fernando Merlino (piano), Dirceu Leite (Sax/ flauta), Neni Brown e Laércio da Costa (percussão), "arrebentou" no Sesc-Pompéia em São Paulo (local onde foi gravado o CD). Foi uma festança, uma sinergia entre o público e a artista. Os presentes foram cúmplices ativos, verdadeiros parceiros da cantora. Essa energia foi em boa medida refletida no disco.

Logo na primeira faixa já se escuta um pot-pourri agitado com as belas canções "Maria de um só João" e "Luz do teu Olhar", de Arlindo Cruz e de Franco. Na segunda faixa homenageia a grande e saudosa partideira Jovelina Pérola Negra com outro Pot-pourri de "No mesmo manto" e "Pomba rolou". Depois, na terceira faixa canta maravilhosamente, do meu amigo Chiquinho dos Santos, o sucesso romântico "Lugares". Em seguida, na sexta faixa, canta Carica e Prateado em "Meu Sorriso", que já foi gravada pelo grupo da Zona Norte da capital paulistana "Sensação". Mas, na voz de Leci ficou divino. Depois, vêm as inéditas "Anúncio da Alegria" e "Lá no Sertão", esta do compositor mato-grossense João Ormond. Rasga o verbo corretamente com o samba de Arlindo Cruz e Sombrinha que Pergunta: "Cadê a dignidade?". Letra forte que exige: "Chega de corrupção / chega de hipocrisia. Deixa o povo trabalhar / pelo pão de cada dia (…)".

Regrava "Maravilha", de Tonho Matéria (Ara Ketu), que foi sucesso na sua voz em 1989 e grava, muito bem por sinal, "Lilás" de Djavan. Tem ainda a homenagem ao nosso futebol com "Brasil de bola e de samba" e o rap gravado com Rappin Hood, bela e longa letra, cujo titulo é "Sou negrão".

A cantora, enfim, fez um disco com todos aqueles condimentos que lhe apetecem. Tem samba, canções, pagodes, mas o ponto alto é a "palavra" de Leci Brandão. Discurso forte com coerência e dignidade na luta pelos direitos dos cidadãos. Tudo isso sem perder a alegria e muito menos o ritmo. Com simplicidade ela assume: "E se tenho educação / E se hoje eu estou aqui. Simplesmente porque sou a filha de dona Lecy. E se eu for a sensação / E o sucesso explodir / Eu jamais vou deixar de ser a filha de dona Lecy". Nós esperamos.

“Hoje eu digo: Temos certeza!!! Seja bem vinda camarada.

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