Obama será um mal menor?

Criticar sem agredir não é apenas o modo correto de discutir. É também a postura intelectual que permite compreender os motivos e a lógica da conduta do opositor, fazendo dele um efetivo interlocutor. O artigo “Big smile and big stick” me valeu, entre out

“Obama como mais preparado para lidar com a crise de Wall Street de um modo menos oneroso? As quantias de capital envolvidas são colossais[…] se não saírem dos contribuintes e dos países da periferia sairão de onde? Obama simplesmente não tem, e talvez nem possa ter um plano específico para isso ! A crise é uma questão de Estado. Certo, eles não são ''farinha do mesmo saco'', mas as diferenças práticas são modestas. Na política doméstica um pouco maiores, na externa e na financeira tendem a zero. O que inquieta no artigo é que você parece concordar com tudo isso que eu digo acima, mas simplesmente insiste em Obama assim mesmo, é isso? Se não é, onde estão os indícios que tornam plausíveis seus comentários do último parágrafo, já que eles não se encontram em nenhuma parte do texto?”


 


 


Boa pergunta. De fato, referi muitas outras tomadas de posição do candidato democrata sobre política externa que se inscrevem numa linha de continuidade com o sistema internacional de dominação do imperialismo hegemônico. A despeito disso, no último parágrafo do artigo em pauta, escrevi que Obama é preferível a McCain, que se identifica com o mais empedernido militarismo e a mais mortífera arrogância hegemônica estadunidense. Consideremos ou não séria a proposta de Obama de sair em dezoito meses da mais mortífera atrocidade atual, a guerra de ocupação do Iraque, o fato é que McCain não propõe nada semelhante.


 


 


Parece também provável que o candidato democrata, menos fundamentalista do mercado do que seu rival, possa gerir a descomunal massa falida de Wall Street de um modo menos oneroso para o povo estadunidense. Mas o fator que faz pesar a balança a favor de sua candidatura é que o significado político de uma disputa eleitoral não é dado somente pelos candidatos, mas também pela massa dos eleitores. Os que apóiam Obama configuram um movimento de opinião dos descontentes e dos desiludidos com o famigerado “sonho americano”. Então, supondo que ele triunfe, de duas, uma: ou ele leva em conta, ao menos parcialmente, as aspirações de seus eleitores, ou não leva, descontentando os já descontentes e desiludindo os já desiludidos. Nas duas hipóteses, alguma brecha terá sido aberta no espesso conformismo da mentalidade política estadunidense.


 


 


Consideremos a perspectiva oposta: McCain é eleito presidente. A conseqüência é que estará sendo sufragada a continuação de tudo que G.W.Bush representa. Além do predomínio, entre os interesses dos grandes trustes, daqueles vinculados ao chamado complexo industrial-militar, terá sido referendado o obscurantismo cultural da “Jesuslândia”, da qual Pralin, a parceira de McCain, é expressão pateticamente caricatural.


 


 


Minha réplica às críticas dos amigos terá sido suficiente? Talvez não. Admito que nem a mim mesmo ela convenceu inteiramente. Estou apenas convencido de que o método está correto: procurar ver a diferença na identidade e a identidade na diferença. Sem o que seremos incapazes de analisar concretamente uma situação concreta, conforme está recorrentemente preconizado nos textos de Lênin.


 


 


Da situação concreta das eleições estadunidenses fazem parte, e não tê-lo assinalado no artigo precedente foi um lapso que aqui retifico, os chamados candidatos alternativos, nomeadamente Ralph Nader e Cynthia McKinney, aquele um veterano defensor dos direitos dos consumidores, esta mais jovem (nasceu em 1955), membro da U.S. House of Representatives do Congresso estadunidense de 1993 a 2003 e de 2005 a 2007. Em setembro de 2007, ela deixou o partido democrata. Tanto ela quanto Nader militam firmemente contra as guerras coloniais imperialistas e, perante o colpaso de Wall Street, preconizam reformas econômicas e sociais avançadas. Mobilizam parcela muito pequena do eleitorado, mas são sementes de uma posição crítica num oceano de conformismo.


 


 


Enfim, prova de que estou longe de ter “obamado”, reproduzo algumas declarações de Frank Sánchez, assessor político de Obama, a respeito da “mudança” que este pensa imprimir nas relações com a América Latina. Adianto que na média a diferença para melhor é mínima. Mas a que coloco em primeiro lugar é patética: ''Obama apoiou fortemente Uribe em sua luta contra as FARC. Foi um dos únicos políticos US que apoiou Uribe em sua incursão no Equador. Nem Bush foi tão claro no apoio a esse ataque''.


 


 


O lema de Obama é a necessidade da mudança. “Bush abandonou o que deveria ser uma relação ativa e respeitosa”. ''Só as drogas e, de vez en quando, negociar um TLC, não significa que haja colaboração''. ''Não ter visitado até agora a região não quer dizer que Obama não vá manter uma política efetiva. Bush foi várias vezes, no entanto, deixou um vazio que foi ocupado por um demagogo como Hugo Chávez''.


 


 


Sánchez disse que as relações com a Colômbia são muito importantes e boas e Obama continuará nesse caminho. Sobre o TLC com a Colômbia, informou que ele apóia o TLC e crê que o livre mercado é parte da globalização, mas ''qualquer acordo tem que favorecer a todos, inclusive o trabalhador. O acordo é bom, mas os fatos têm que refletir o que essas palavras dizen. Na Colômbia menos de 2 % dos casos de assassinatos foram esclarecidos. (…) não se pode apoiar um acordo em que as palavras são boas, mas os fatos não''. Enfim, o liberal-imperalismo com um pequeno toque social.


 


 


Explicando porque a política em relação a Cuba tinha sido um fracasso, Sánchez condicionou um diálogo futuro com a máxima direção cubana a um sinal por parte de  Havana: ''Se vemos um sinal sério de Cuba, se os presos políticos são libertados e param as detenções de pessoas que opinam diferente, então poder-se-ia falar de conversações diretas''. Anunciou ainda que os primeiros passos serão a suspensão das restrições para viajar: (''Hoje não se pode voltar a Cuba antes de tres anos, isso é desumano) e a eliminação das restrições às remessas (de dinheiro)''.


 


 


Conclusão: se eu fosse estadunidense votaria na Cynthia McKinney.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor