Os Sustos de Obama

Foi emblemático o sucedido. O carrão oficial americano, alongado e blindado, que levava de Barak Obama entalou na porta de saída do palácio de governo da Irlanda. Um simples acidente, de pronto resolvido pelo mundaréu de agentes que acompanhava o evento, como de costume, mas não deixa de nos fazer remontar um pouquinho de história.

A Irlanda é um entalo na garganta do imperialismo, tanto americano quanto britânico. E, é claro, essa presença é quase que uma agressão àquele povo, que embora próximo ao centro do império durante séculos, padeceu de humilhações e sacrifícios dos mais tristes da Europa.

Era uma nação que estava às barbas do poder central do mundo de então, mas que vivia numa miséria de não fazer inveja a nenhum terceiro-mundista. Só que tinha uma arma poderosa, a da solidariedade, da união, da busca incessante do saber.

A Irlanda era um pedaço deveras importante da Inglaterra, que hoje chamamos apenas de Grã-Bretanha. A eles, os irlandeses, devemos muito do que o mundo respeita em vários campos da vida. Na literatura, por exemplo, para citar só três exemplos, estão James Joyce, Jonathan Swift e Oscar Wilde.

Aliás, o aspecto social, com cunho de quebra de estruturas, de rebeldia, sempre foi uma marca daquela gente. Nós, aqui no Brasil, ainda hoje conhecemos bem este viés irlandês, mesmo que não saibamos da origem disso. É através de grupos musicais, com destaque especial ao combativo U2.

O fato é que, no final do século 19, a Irlanda travou décadas de luta contra a dominação britânica. Nesse espaço de tempo, muita gente se refugiou em outro país dissidente do domínio britânico, chamado Estados Unidos. É brutal a influência irlandesa na música americana, a começar pelos instrumentos que para lá foram levados.

Mas a Irlanda só conseguiu a independência em 1922, com forte chamamento das jornadas de libertação mundo afora, em especial da revolução na Rússia. Tornou-se uma nação livre e democrática. Mas…

Por ação direta das forças britânicas, criou-se de imediato um conflito, de início midiático, mas que virou coisa séria e grave, de caráter religioso. Esse conflito, a rigor, persiste até hoje, como forma de, pela divisão, controlar o que, para a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, seria um inimigo.

Da mesma forma que seu carro entalou ali, nas outras ações desses dias de Obama ao redor do mundo sua própria garganta engasgou. Por exemplo, ao propor a Israel a volta dos limites territoriais anteriores às invasões de territórios árabes na guerra de 1967, Obama tinha um sorriso amarelo.

A nova configuração geopolítica do Oriente Médio pede uma ação rápida de quem quer dominar o mundo. E sugerir flexão a Israel é um pressuposto para isso. Mas, uma coisa é falar, outra é fazer.

Se, no carro, o susto foi dele, agora será nosso.

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