Pandora: Adeus para quem vai. Basta para quem fica

Camundongo é um roedor miúdo.
Quase não se vê de tão pequeno.
Quando sentimos sua presença.
O estrago é imenso.

Era desse jeito:
simples, humilde, De boca fechada.
Quase despercebido.
Lutava por um rap bombástico
Com letras consistentes e politizadas.
Tinha sede pelo conhecimento
Era movimento?
Lá estava ele, atento!
MST, popular, juventude, negros…
Movimento de mulheres?
Não teve tempo.
Pressa de participar e construir.
Acho que sentia que não tinha tempo (a perder).
Conferências, congressos, palestras:
– Olha lá ele, olhos vidrados, ouvido pra ouvir.
Ele queria saber.
Fazer acontecer
Filiou a UJS a algum tempo
Depois ao PCdoB a pouco menos
Tempo, tempo, tempo, tempo…
Não teve tempo,
O coelho de Alice
Agora acabou
Não tinha vinte e cinco anos
O filho único
Magia poderosa
Que transforma pó em pedra o pegou.
E por uma merreca.
Outro jovem o alvejou.
Com dois tiros na cabeça, ele tombou.
Ta ai na sua frente porra!
Nessa faixa de quartoze a vinte e quatro anos de violência.
Vítmima e agressor.
Algoz e lutador.
As estatísticas o conhece
Como numero tal
Mas as PPJ (Políticas públicas para juventude)
Não os alcançou.
Vá em paz irmão
O seu lugar está guardado
Nas trincheiras da revolução
O capitalismo te levou
Mas irá ruir, já está podre.
Que falta você faz.
Pelo basta que não podemos dar hoje
As estatísticas continuam (a crescer)
Até quando se fará política
Com garotos mortos?

Poema em homenagem póstuma ao camarada k-Hum, barbaramente assassinado.

Pandora – Integrante do Grupo Saga Clã e produtora de eventos do Movimento hip-hop no Espírito Santo.

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