Primeiro ano ou terceiro turno?
Publicado 07/02/2011 12:23
Graças aos acontecimentos recentes, tenho pensado em uma frase do Aldo Rebelo. Pode haver erro na citação, mas não no sentido. Foi dita quando foi ele preterido pelo aliado hegemônico na disputa à Presidência da Câmara, malgrado seu protagonismo na defesa do Governo Lula face à sanha golpista da direita e aliados ultra-esquerdistas. E a despeito de haver um entendimento sobre a sua recondução. Então, o Aldo, com aquela profundidade de análise e expressão de que é capaz, saiu-se com essa: "Vão conseguir derrotar um aliado". Brilhante. Afinal, qual é o mérito de derrotar um aliado? E, ademais, quando é para agradar os inimigos?
Penso nisso sem poder negar certo abatimento, ao constatar (sem entender) que seja tão importante assim para o Governo Dilma, aumentar em meio ponto percentual a SELIC, cortar na carne no orçamento 2011 (foi dito em campanha não haver necessidade de ajuste fiscal); derrotar as centrais sindicais na questão do aumento do mínimo e, para fechar, ainda espremer os aliados de esquerda na composição do governo.
Receita de cruz-credo
Estamos a internalizar a guerra cambial que os EUA travam com o mundo e a manter a política macroeconômica inspirada pelo neoliberalismo. Reféns da especulação rentista, temo que sigamos como a orquestra do Titanic, empertigada e autista, alheia ao naufrágio, e sem a desculpa da música (que até posso aceitar para um músico). Afinal, a ortodoxia nossa de cada dia, essa que nos faz seguir qual dogma os tais fundamentos, pra que serve mesmo?
Por quanto tempo prevalecerá essa equação:
– Superávits primários elevadíssimos;
– Câmbio flutuante em regime de banda;
– Taxa de juros SELIC, látego do sistema financeiro a açoitar sem dó a quem produz e a quem deve (pois encarece todo o crédito). E as decisões sobre o tema em mãos do COPOM, de costas para os trabalhadores e a Nação;
– Esse regime de meta de inflação, que se utiliza descaradamente do trauma da hiperinflação dos anos 80 – que assusta ainda hoje a população – e justifica toda sorte de maldade. Na verdade, remunera especuladores e sacrifica a quem produz.
E o que tem a ver isso tudo com o salário mínimo? Tudo. É a partir dessa equação que se justificam todas as medidas que diminuem o crescimento da economia, os cortes no orçamento, o aumento do endividamento das famílias, penalizar a produção, apequenar o país e fazer com que a reinvidicação de aumento do salário mínimo de R$ 580,00 seja motivo para anátemas.
Erro tático
E é em defesa disto e ontra as centrais sindicais, que o nosso governo – ainda que não só nosso – esgrime um argumento pétreo. Querem ou não querem que continue a política de valorização do salário mínimo acordada com as centrais sindicais?
Ora pitombas, claro que queremos! A pergunta é outra: qual é o compromisso do governo Dilma em seguir valorizando o salário mínimo – portanto, acima da inflação – , essa sim a bandeira que levou à conformação do acordo com as centrais?! E qual a relação entre o combate à miséria e a valorização do salário mínimo?
Por que errar assim na tática, dando sinalizaçãoes completamente incompatíveis com uma agenda de desenvolvimento? E por que assumir essa posição quanto ao aumento do salário mínimo!!!??? A ortodoxia de hoje serve a que, dentro do projeto nacional de desenvolvimento que queremos para o Brasil? Aliás, estamos no terceiro mandato do projeto iniciado em 2002. Quer dizer que é essa formulazinha acima citada para seculum, seculorum amem?! Quer dizer que os países ricos mandam às favas a ortodoxia, asumem déficits gigantescos, estatizam, fazem e desfazem para assegurar sua posição e a dos rentistas, iniciam uma guerra cambial, e a gente continua nessa?!
Vejam a cobertura da mídia, e como o governo se enrola nela… Primeiro, na campanha, o Serra propõe R$600,00. Depois, os pigs – vendo a cintura dura e o bom mocismo palocciano, digo, palaciano, reforçam a posição do governo e a amplificam. Observem como o PIG aplaude e estimula um mau passo do governo! A partir daí, passa a ser derrota sua cada centavo acima dos R$ 545,00, pois comprou a provocação da ortodoxia. Assim, assume como derrota o que o povo ganhar a mais! E os "negociadores" seguem a cantilena, emparedando o próprio governo e chegam a falar que levarão o tema para votar no Congresso. Isso que se levar ao congresso, né? Podiam ser as reformas estruturais, não?.. É muita cegueira!
Ainda é cedo, e cedo se deve reclamar
Claro que é cedo, mas é bom que tudo isso ocorra no princípio do governo. Acompanhemos atentamente, os próximos capítulos e intervenhamos no curso da luta. Em especial quem defende um governo de DESENVOLVIMENTO e VALORIZAÇÃO DO TRABALHO. É alvissareiro que nesse debate o povo brasileiro tenha como porta-vozes das suas reinvidicações as centrais sindicais. A direita quer o primeiro ano de Dilma como o seu terceiro turno, e nesse embate, centrais encarnam papel de vulto: são a voz de todo o Brasil que trabalh. Ê lêlê. Vamos ver até onde o Palocci nos levará, né?
Ou melhor, vamos não. Certas estão as centrais sindicais ao dizerem que vão mobilizar povo. E essa luta unitária tem nome e sobrenome, desde antes do governo Lula:
– Valorizar o trabalho;
– Reduzir a Jornada de Trabalho para 40 horas, sem reduzir salários.
É necessário entender quão complexa será a tática que marcará esse próximo período, e isto não está claro. Será fruto de muito amadurecimento, bater cabeças. Mas já acalma algumas ilusões reformistas que crêem seja possível prescindir da luta de massas, da luta de idéias e da militância, armada ideologicamente para enfrentar as forças do capital, em especial a tríade:
- sistema financeiro – banqueiros;
- latifúndio;
- Partido da Imprensa Golpista (PIG).
Ou seja, a dialética e complexidade na política continuam, é unidade e luta, proposição, pressão. E não venha o PIG querer fazer mais intriga, porque não é de ruptura que se fala. Não tem nada a ver. Só não queiram que as centrais sindicais façam esse mau papel do governo. Afinal, nem sempre ele acerta, como vemos já no seu início. Outros erros haverá, e o povo deve participar da política para intervir e fortalecer as forças da mudança. Política, não tem jeito, também é ter lado e lutar pela melhor correlação de forças.