Quem é o inimigo? Quem é você?

Nos últimos quinze dias, segundo alguns especialistas de redes sociais o mundo explodiu! Seriam os sinais do fim dos tempos? Seria a fúria dos deuses contra o ser humano que não respeita as leis divinas? 

Como explicar que a França, país da capital mais chique do planeta sofreu atentados à bomba? Ah, teve também uma barragem que estourou em Mariana (a 35 km da minha casa), lá no interior de Minas Gerais e que destruiu a biodiversidade da flora e fauna do Rio Doce, mas isso é menos importante, vamos nos ater aos franceses!

Por que tanto ódio a um país tão culto, de onde saiu o incrível Charles de Gaulle, Catherine Deneuve, a eterna Belle de Jour! Terra de Brigitte Bardot, da magnífica voz de Édith Piaf, de craques da bola como Michel Platini e Zinedine Zidane! Como se explicar um atentado terrorista logo na cidade luz! Na mais charmosa das cidades da Europa, seriam os terroristas malucos de ousar manchar perante o mundo a terra do “Liberté, Egalité, Fraternité”?

Este monte de bobagens escritas nos dos primeiros parágrafos não é sinal de insanidade mental minha, mas apenas parte do que li e ouvi nestes dias de comoção internacional pelo atentado na França, comoção esta capaz de tirar dos telejornais a preocupação com a destruição da parte rural de Mariana e urbana de Barra Longa, fora os inestimáveis prejuízos ambientais ao Rio Doce e a impossibilidade de captação de água em Governador Valadares.

Estes mesmos corações de papel parecem não saber que só na Síria, já se tem mais de 210 mil mortes segundo dados do Observatório Sírio de Direitos Humanos, isso corresponde à metade da população do estado de Roraima (IBGE, 2010). E quanto aos 147 estudantes mortos em uma Universidade no Quênia pelo mesmo Estado Islâmico? Onde passou esta informação?

Possivelmente nada disso chegou ao grande público global da Vênus Platinada. Talvez um pouquinho sobre o desastre da barragem de Mariana, mas bem pouquinho, afinal de contas a empresa responsável pelo “acidente” paga muito bem tanto por publicidade no horário nobre quanto para patrocinar campanhas eleitorais de diversos deputados e senadores da república.

Para se ter noção do tanto de lama de rejeito que matou dezenas de pessoas no distrito marianense de Bento Rodrigues, que se fosse com o Reino Unido, a lama percorreria a distância entre Londres e Glasgow, aproximadamente 560 km. Estamos falando simplesmente do maior desastre ambiental da história do país, um dos maiores do mundo, com efeitos que, em longo prazo, podem ser tão letais como o do Mar de Miamata, no Japão durante a década de 1950 em que centenas de pessoas morreram vítima da contaminação por mercúrio, metal este que foi achado nas pesquisas feitas no rejeito de lama que saiu varrendo tudo…

Mas Por que esta indignação seletiva? Por que não se quer apurar a fundo os fatos nem sobre o caso de Mariana e nem sobre quem é o grupo terrorista Estado Islâmico? O motivo é simples: os responsáveis são os mesmos: Os oligopólios internacionais das maiores empresas do mundo juntamente com o imperialismo estadunidense.

Como assim? O que uma explosão na França tem a ver com o rejeito de minério presente em uma barragem de Minas Gerais que vazou? Amigo leitor, o imperialismo, que é a pior face do modo de produção capitalista, necessita de guerras para conseguir se sustentar, afinal de contas é da desigualdade de muitos e da riqueza de poucos que ele sobrevive.

Já parou para pensar quem financia estes grupos terroristas? A própria União Europeia e os Estados Unidos, como foi com Osama Bin Laden e a Al Qaeda, criada pelos ianques para combater (na época) a influência soviética no Afeganistão. Foi do mesmo jeito com o Estado Islâmico, soldados rebeldes mercenários criados e armados pela CIA para desestabilizar regimes do oriente médio que não fazem o jogo do imperialismo, como foi na Líbia, no Egito e agora na Síria.

Ok, mas e o que isso tem a ver com Mariana? O dinheiro que financia o imperialismo vem das grandes corporações interessadas apenas em seus lucros e pouco, ou quase nada, no ser humano. Para aumentar seus lucros, os donos deste capital, chamados de capitalistas (detentor do meio de produção) buscam de toda forma diminuir o seu já pequeno gasto com direitos trabalhistas, reformas estruturais, etc. O que houve em Mariana foi o exemplo claro de negligência de uma destas mega empresas que, ao invés de reformar as barragens que romperam, preferiram guardar nos seus ricos bolsos o seu lucro retirado da exploração mineral brasileira.

Ah, e tem outro detalhe: como não temos no Brasil um financiamento público de campanha para eleição, estas mesmas empresas pagam (na verdade investem) na maior parte dos candidatos com potencial de vencer as eleições, pois aí, em caso de algum problema grave (como este da Barragem), vai todo mundo fingir de bobo, tratando como acidente um caso clássico de negligência empresarial.
Tá vendo agora como não tem ninguém santo neste mar de lama e sangue que se espalhou nesta última semana? Pense nisso! Se sofrermos juntos, por que não podemos lutar juntos? O verdadeiro inimigo não sou eu ou você, é o sistema capitalista e sua forma mais cruel: O imperialismo, ou lutamos por outro sistema econômico e político, ou vamos ficar sempre nos remoendo sobre tragédias perfeitamente evitáveis, pois esta é a verdadeira face deste sistema: guerra, sangue, terror e agora: lama.

Até a próxima!

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