Questão de raça, de pele, de classe

Na semana passada, a questão do racismo – em especial contra negros – ocupou o noticiário. No Oriente Médio, tropas do governo sionista de Israel bombardearam a Faixa de Gaza, seqüestraram ministros, membros do parlamen

Biologicamente, a espécie humana não tem raças. Popularmente, fala-se da raça negra, a branca e a amarela (os asiáticos e os nativos primeiros do que é hoje a América). Mas brancos que têm a pele muito escura podem ser confundidos com negros que têm a pele mais clara… A forma da pálpebra, a cor e forma do cabelo, o formato do nariz, a forma da cabeça, a altura etc. não chegam a estabelecer nítidas subdivisões de tipos raciais, como as raças de um pastor alemão ou de um pequinês dentre os cães, por exemplo. No mais, está cientificamente fundamentado que não existem diferenças de capacidade intelectual entre as várias populações humanas.

Mas existe a raça enquanto categoria criada socialmente, “na trama das relações sociais desiguais, no jogo das forças sociais, com as quais se reiteram e desenvolvem hierarquias, desigualdades e alienações”, como afirmou o professor Otávio Ianni em um debate publicado em livro com o título “O negro e o socialismo”. Para ele, a elite dominante exploradora (da qual Jean Marie Le Pen e sua Frente Nacional Francesa são representantes) atua para manter o povo disperso, dividido, desunido em termos sociais, étnicos, de gênero, religioso, regional etc. Desunido o povo, é mais fácil de ser dominado. O que tem movido a história, ensinam Karl Marx e Friedrich Engels, é a luta de classes, mas o preconceito de classe e racial se mesclam nas sociedades.

No caso do Oriente Médio, interesses de dominação internacional e de classes e castas locais permeiam a luta entre árabes e judeus, entre palestinos e sionistas, misturando-se com fudamentalismos religiosos, ocupação da terra e posse do petróleo e com a luta pela construção de uma sociedade igualitária, sem discriminações, sem dominantes e sem dominados.

Já na Copa do Mundo, reagindo à declaração racista do dirigente da FNF, o zagueiro francês Lilian Thuram afirmou: "Não sou negro, sou francês. Le Pen deveria saber que, assim como existem negros franceses, existem loiros e morenos, e não são convocados para a seleção por sua cor." Os capitães de todas as seleções que estão nas quartas-de-final da Copa passaram a ler mensagens anti-racistas antes do início das partidas. A iniciativa faz parte de uma parceria entre a Fifa e a Unicef com o intuito de banir o preconceito racial nos estádios e no mundo. Além da declaração dos jogadores, em todas as partidas, desde a primeira fase, uma faixa é estendida no centro do campo, antes do início dos jogos, com os dizeres "Tempo de Fazer Amigos", lema da Copa, e "Diga não ao Racismo".

Quanto ao Brasil, um grupo de professores universitários e de militantes de movimentos negros pediram aos presidentes da Câmara Federal e do Senado o fim das cotas raciais em universidades e a revisão do Estatuto da Igualdade Racial. Eles temem que, em vez de acabar com a discriminação racial, as mudanças as acentuem. Argumentam que o Estatuto define os direitos da pessoa com base na cor da sua pele, prática “cujas tentativas já foram dolorosamente condenadas pela história.” O integrante do Movimento Negro Socialista, José Carlos Miranda, considera que “a melhor forma de corrigir as injustiças sofridas pelos negros é garantir acesso a serviços públicos de qualidade a todos os cidadãos, sejam negros ou não”. A “Carta Pública ao Congresso Nacional — Todos têm direitos iguais na República democrática” é assinada por 114 intelectuais, artistas e ativistas do movimento negro.

O autor do projeto do Estatuto da Igualdade Racial, o senador Paulo Paim (PT-RS) disse que a proposta tem o objetivo de reparar a população negra pelo sofrimento e pela falta de oportunidades decorrentes da escravidão. Mas a professora Eunice Durham, que foi secretária de Política Educacional do Ministério da Educação no governo de Fernando Henrique, rebate que “a universidade não é prêmio para a injustiça passada. Não se repara injustiça premiando descendentes de quem foi vítima da injustiça”. Ela defende a criação de cursos pré-vestibulares para a população pobre. Paim considera que o documento, assinado, dentre outros, por Gilberto Velho, Luiz Werneck Vianna, Maria Hermínia Tavares de Almeida, Oliveiros Ferreira, Wanderley Guilherme dos Santos, Caetano Veloso, Ferreira Gullar e Zelito Viana, é uma manifestação da “elite branca”.

O presidente do senado, Renan Calheiros (PMDB/AL), concordou que são necessárias mais discussões sobre os projetos das cotas e do estatuto "para evitar que provoquem novas divisões na sociedade". O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB/SP) disse ter restrições ao modelo de cotas raciais adotado nos Estados Unidos, com reserva de vagas para negros tal qual prevê o Estatuto da Igualdade Racial e, em menor escala, ao projeto de cotas nas universidades federais proposto pelo MEC, que reserva 50% das vagas para alunos da escola pública, com subcota para negros e índios. "Reconhecemos esses conflitos sociais, mas precisamos encontrar uma solução mais consistente", afirmou o deputado comunista.

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