Realmente Divino Amor

O cinema do pernambucano Gabriel Mascaro em “Divino Amor” e o filme “Velha juventude” do consagrado cineasta Francis Coppola

Filme "Divino Amor" I Foto: Divulgação

Esse filme de Gabriel Mascaro “Divino Amor” foi lançado em 2019, mas eu nunca o tinha visto e por acaso descobri ele hoje na plataforma do Sesc digital ‘Cinema em casa” aberto. Considero que, para quem se liga ao Natal, é uma obra bastante oportuna.

E o mais interessante é que encontramos uma realização de excelente nível estrutural do ponto de vista estético, e certamente não é exagero colocá-lo nesse aspecto no mesmo nível artístico do filme de Jean-Luc Godard “Je vous salue, Marie”.

A temática fundamental é a mesma. Já ouvi falar muito desse filme, da importância da presença de Dira Paes. E sem dúvida é o personagem central. Todavia, mais importante do que ela é a fundamentação criada, tal como acontece no filme produzido por Godard.

Gabriel Mascaro tem uma já bastante grande produção cinematográfica. O filme mais importante dele é “Boi neon”, realizado em 2015. “Divino amor” me parece uma obra mais amadurecida. E do ponto de vista da linguagem se coloca entre os principais filmes da cinematografia moderna. É um trabalho sem amarras biográficas. E consegue manter a presença da imagem sem precisar cair demais no nivelamento natural.

Gabriel Mascaro ainda consegue ganhar de Jean-Luc Godard no aspecto do erotismo. Leva o filme para momentos extremos do erótico com dois casais fazendo plenamente sexo de modo aberto. Entretanto, “Divino Amor” leva o espectador a sentir a presença sexual em todo o desenvolvimento cênico. Não quero dizer assim que o filme seja pornográfico. Pelo contrário, não tem nenhum aspecto de pornografia, nem tampouco de mau gosto. Ele vai contando sua estória em sequências tranquilas. E sem deixar de ter momentos ágeis e vigorosos para despertar a atenção do espectador.

Com esse “Divino Amor”, o cinema pernambucano se coloca ao nível de qualquer cinematografia mundial, inclusive da coreana do sul. Claro que temos outros bons filmes em Pernambuco, mas do ponto de vista estritamente estético, de linguagem criativa, Gabriel Mascaro atinge um excelente lugar. É bom registrar que se trata de um jovem com apenas 38 anos de idade.

Olinda, 27. 12. 21

Velha juventude de Copolla

Filme “Velha juventude” I Foto: Divulgação

Um dos maiores cineastas do cinema norte-americano, não só hollywoodiano, e com a vantagem de ser dos Estados Unidos mesmo com uma parte dele sendo italiana, é Francis Ford Coppola. Ele  é um sujeito que teve a capacidade de ser de Hollywood, mas com a vantagem de ser liberto e fazer filmes com toda autonomia. Isso é realmente muito difícil.

O filme que vi dele se chama “Velha juventude” (Youth without Youth), e teve produção em 2007 na Romênia. De lá é o filósofo Mircea Eliade, que por incrível que pareça é o autor da estória desse filme. Foi a partir de suas ideias como filósofo orientalista que Coppola realizou essa obra.

Antes, eu havia assistido a um pedaço de um filme português de um velho e famoso cineasta, mas parei antes do fim por considerar que estava vendo falsa literatura e não cinema. Ao contrário, agora tenho a impressão de que estou vendo uma estória filosófica e na verdade isso acontece, pois Coppola é uma pessoa que tem uma extraordinária capacidade em criar arte de cinema, mesmo sem se submeter de maneira errada aos princípios cinematográficos. Ele dirige sabendo o que quer e deve fazer um filme nos termos seus conhecidos, para que seja entendido pelo chamado grande público. E atinge esse objetivo.

Coppola consegue criar começo, meio e fim, mas sem se submeter ao hollywoodianismo. Deixa o filme se desenvolver com força dramática. É a velha estória de quem sabe, sabe, e quem pode, pode. Mircea Eliade conta uma estória complexa que mistura fatos simples e difíceis, tanto quanto simples novela, quanto enquanto vai ligando ciência e visões filosóficas. Mas tudo isso se encaixa como se fosse uma simples estória de amor e magia. E tem força dramática. Embora que nem sempre consiga chegar ao grande público. Ver filmes desse tipo, mesmo norte-americanos, vale a pena.

“Velha juventude” está em exibição no Mubi.

Olinda, 07. 12. 21

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