Rolé no xópim
Em bom português, shopping é xópim mesmo. Até nisso, a rapaziada parece estar antenada, pois é esta a grafia dada nas suas convocatórias. O rolezinho, assim chamado, é que deveria ser um pequeno rolé, mas acaba sendo grande, porque muita gente quer participar, num gesto saudável de exercício da democracia.
Publicado 21/01/2014 15:27
A mensagem maior desses encontros da juventude é de insatisfação com o que a sociedade lhes oferece como modelo para encarar a vida. E a novidade está no jeito de mandar esse recado, já que a ansiedade rebelde é marca dos moços e moças desde que o ser humano se conhece por gente. Mas, talvez esteja também na amplitude dos movimentos de agora.
Aparentemente, os rolezinhos são contra tudo, mas para muitos são contra nada. São simples rolés, oportunidades de ver algo diferente ou de arranjar novos amigos em carne e osso, longe da virtualidade das telinhas mágicas. Geram, de todo jeito, certa perplexidade nos que, com pretensa racionalidade, buscam entender o que se passa.
Esses andantes são, na maioria, pessoas normalmente mal-vistas em certos ambientes — por si mesmos segregadores –, pelo seu modo de trajar ou de proceder. Dos asseados shopping-centers aos suntuosos tribunais, os cenários são rotineiramente proibitivos a eles. Só não o são os das cadeias e presídios, nada agradáveis a ninguém.
Mas eles não carregam as tradicionais faixas e bandeiras comuns em manifestações de sindicatos e movimentos populares ou estudantis. Tampouco gritam as repetitivas palavras de ordem que martelam os pleitos que os levam aos ambientes públicos. São barulhentos, é certo, mas nada de tão anormal em aglomerações espontâneas, com boa carga de alegria e satisfação.
Que as entenda quem quiser. O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), por exemplo, em entrevista à imprensa, arriscou um diagnóstico. “Eu penso que o jovem é um idealista entusiasmado e que realmente quer mudar de rumos; agora, o local por excelência do protesto é a urna eletrônica”, disse ele.
O veterano jurista parece não ter pegado direito o espírito da coisa. Esse jovem demonstra não ter motivo algum para confiar no sufrágio das urnas, a se tirar pelos políticos que a ele se apresentam no cenário nacional. Mais parece, ao contrário, que o próprio sistema de escolha dos assim chamados representantes do povo está sendo também questionado.
E isso, quando se fala dos poderes que são compostos pelo voto direto e secreto, assegurado pela Constituição Federal. O que dizer, então, do Judiciário?
Basta observar quem é que está nas malcuidadas e escassas prisões em todo o território nacional. Boa parte dos presos foi enjaulada por razões fúteis, mas com decisões que podem ser consideradas legalmente corretas, já que são respaldadas em leis específicas. E fica por isso mesmo.
Já a enorme maioria dos os verdadeiros criminosos está por aí, lépida e fagueira, nas ruas e em gabinetes ou escritórios vistosos e bem postados. Ademais, a todo instante se vê na mídia notícias dizendo que um fulano que foi preso já tem tantas passagens pela polícia e pela Justiça. E está na rua porque algum juiz mandou soltar.
Ou seja, os supostos festeiros sem causa desses rolés convocados para avenidas, praças e xópins levantam, em verdade, bandeiras que grande parte da cidadania gostaria de levantar, mas não o faz por alguma razão. O azar deles é que sempre aparecem, em meio a tantos, alguns aproveitadores, mal-intencionados, que acabam ofuscando ou roubando a festa.