Sampa Crew: “O hip-hop veio, pra sempre engrandecer”

Em 1994 eu Beto, quando formei o Grupo Teoria, sempre fiz minhas musicas falando das ações culturais do hip-hop em na nossa área Ribeirão Pires e tal. Também letras românticas que acabou sendo a principal característica do grupo até hoje.

Em 1998 conheci no antigo Clube House em Santo André os manos do grupo Sampa Crew, que também é conhecido nacionalmente por esta característica do rap romântico, o que poucos sabem, é que assim como o grupo Teoria é o grupo de hip hop mais antigo e pioneiro da cidade de Ribeirão Pires. Sampa Crew é precursor e faz parte da história do hip-hop nacional.

No dia 06 de setembro de 2007 em uma casa de show da zona leste eles comemoraram 20 anos de carreira e gravaram seu primeiro DVD, no dia seguinte 07 de Setembro eles estiveram em Ribeirão Pires, e aproveite a passagem deles por lá, e junto com o B.Boy Tuca, fomos até o Bar Morada do Vinho onde eles iriam tocar para saúda-los e fazer um bate papo. Falei com todos do grupo mas quero deixar aqui o registro da idéia que troquei com o J.C. Sampa idealizador do Sampa Crew que junto com DJ Alan Beat o André, que nos tempos da São Bento fazia parte da Crew Street Warrios, fizeram parte do marco do hip-hop nacional. A idéia seguiu assim…

Beto Teoria: Sampa Fala pra mim qual a expectativa pra este novo trabalho de vocês com a gravação deste 1º DVD e como está comemorando 20 anos de carreira e de sucesso também?
Sampa:
Pra nos ta sendo natural, a gente nunca se deslumbrou com nada né? Agente sempre teve pé no chão, vimos muita coisa passar, muita coisa parar, algumas continuam, mas agente independente de tudo isso continuamos fazendo nosso trabalho então é natural cada dia é um novo dia, um novo trabalho tem que trabalhar muito, não pode esquecer de onde a gente veio. Ter a mente pra onde a gente quer ir e nosso trabalho a gente faz desta forma por isso dá certo e a gente nunca se desconcentra dos nossos objetivos e nunca nos deslumbramos com resultados que as vezes são acima do que a gente espera e também não nos abatemos com resultados que não são como a gente gostaria, cada passo um passo, cada dia um dia e a batalha nunca para.

Sampa como foi criar um selo independente o “Big Posse Produções” e como é fazer todo o gerenciamento e criação do trabalho de vocês?
Pra nos é muito melhor, independente quer dizer liberdade você é independente você é livre. Pra nos sempre foi uma coisa natural porque nos começamos independentes há 20 anos. Nos fazíamos parte do selo da Kaskatas, nos éramos independentes mas, não tão independentes era “independente” dos outros.

Depois nos assinamos com a Sony, e ai pudemos, realmente ver a diferença e ai pudemos chegar a conclusão, que nem de uma forma e nem de outra valia a pena. Foi quando nos abrimos um selo nosso. Aí sim! Passamos a ser independente, mas antes disso nos passamos por todo mercado, chegamos a acompanhar o corte de disco na gravadora, a gente conhece como é fabricado, todos os passos pra chegar a lançar um disco, eu presenciei, a gente conhece de perto, desde de uma confecção de uma capa, até a produção de um disco de um modo geral.

Quando a gente foi para o independente, você ser independente 100% pra nos e você poder compor, produzir a sua própria música, achar a cara que você quer pro seu estilo, você quer ver por exemplo, o último trabalho nosso o “Baladas e Romances” a foto da capa foi batida no meu prédio pelo Didi parceiro nosso que nem é fotografo, com uma câmara digital que eu comprei 5.1. Ele foi lá, bateu a foto, e esta foto virou a capa do CD, ou seja até a capa do CD a gente fez, depois cada um bateu a foto do outro, para ficar a montagem que é, depois o Didi foi lá e bateu a foto geral, a capa a gente desenha tudo, o nome do disco a ordem das músicas, que músicas a gente acha que deve tocar primeiro.

Tudo independente, cada passo, isto que é legal! Hoje em dia, ser independente é natural, as gravadoras são muito mais distribuidora, não existe mais aquela coisa quando a gente tava na Sony que os cara pagavam para você ir lá pro nordeste, pro norte, ficar nos melhores hotéis, só divulgando seu trabalho. Tinha muito isso na época, hoje em dia não existe mais isso, a gravadora hoje mal divulga seu trabalho.

O Sampa Crew é um dos pioneiros do hip-hop no Brasil. Vocês começaram na mesma época com Thaide e DJ Hum, Racionais MC’s entre outros e tal… Na época você até tiveram alguns rap´s de destaque como “Não Mate a Mata”, ”Movimento Infinito”, entre outros. Porque vocês tomaram esta linha mais romântica? E o que é pra você, hoje o rap?
Eu penso que o rap é uma música que tem que ser positiva sempre. Ele tem sempre que passar bons exemplos, passar mensagens positivas, conscientes sim. Mas sempre positivas.

Ela nunca pode vir dizendo, que você não vai conseguir ou que você não é capaz. Não pode vir pra banalizar as pessoas por ser jovem, ou outra coisas mais. Banalizar a juventude, ou pregar o preconceito. O hip-hop veio pra sempre engrandecer, pra falar de amor, pra falar de paz, é Ritmo e Poesia e a poesia tem sempre que ser positiva, dentro do rap é assim que eu entendo que tem que ser.

Eu vejo o rap sempre assim. Pra mim tudo que a maioria faz lá fora (internacional) é rap, porque esta sendo rap num tem jeito é declamado, mas em minha opinião a maioria são coisas banais, que não devem nem ser levadas em consideração.

O que você acha dos trabalhos, como o do Grupo Teoria, da Nação Hip-Hop Brasil, do Hip-Hop a Lápis e dos outros trabalhos organizados do hip-hop?
Bom o Teoria eu já conhecia quando fazia o programa na rádio e fazia questão de colocar na programação porque grupos como vocês, sabem o que é o rap e o que é o hip-hop. O hip-hop é isso, coisas positivas, se você vai falar de amor, se você vai falar de coisas boas, e vai passar coisas boas pras pessoas, as pessoas sentem isso quando escutam as músicas positivas. Então isso é o hip-hop, o resto é mentira, e gente que acha que só colocar uma calça larga e um boné já é rapper, já é do hip-hop e tal…. e num é nada disso.

Nesse momento já era 3 da madruga e o barulhos dos gritos do público já era ensurdecedor. O grupo já havia sido anunciado, então um produtor de palco pede licença pra interromper a entrevista, pois o Sampa devia subir ao palco naquele momento.

Ele fez questão de levarmos para acompanhar o show com ele ao lado do palco e depois do show agradeceu ao exemplar do Livro Hip-Hop a Lápis, que recebeu por mim, e disse estar à disposição do movimento hip-hop sempre que precisar.

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Entrevista concedida em 7 de setembro de 2007 (dia da independência)

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