Senhores da Guerra

Esta semana, o presidente dos Estados Unidos da América, George Walker Bush, em final de mandato, anunciou a retirada de oito mil soldados do Iraque, de um total que havia sido elevado no primeiro trimestre do ano passado, para 146 mil soldados. Uma retir

Obama X McCain


 


 


Desde o início das primárias que antecederam as convenções dos Democratas e dos Republicanos nos Estados Unidos no final de agosto, já tratei da temática da posição dos pré-candidatos à presidência nesse país nesta coluna semanal. Mesmo quando havia em torno de cinco nomes de democratas e outros cinco de republicanos, explicitei a posição de cada um deles sobre a retirada das tropas americanas do Iraque.


 


 


É bem verdade que, no campo democrata, Obama foi um dos únicos a votar contrário à autorização para Bush invadir o Iraque no final de 2002, quando esse assunto chegou à pauta do Senado dos EUA. Não nos esqueçamos da data fatídica: 19 de março de 2003 foi quando as tropas anglo-americanas em sua maioria entraram no Iraque, tendo chegado à Bagdá alguns dias depois em uma das guerras de ocupação mais velozes da história.


 


 


E entre os pré-candidatos tanto do lado democrata como republicano, Obama era o que defendia a retirada mais veloz. Falava em alguns meses. Hoje ele fixou-se em 16 meses após a sua posse – se vencer as eleições, claro – que ocorrerá em janeiro de 2009. Dessa forma, caso Obama seja o próximo presidente, sair do Iraque mesmo só no segundo semestre de 2010.


 


 


Desta feita, Obama saiu a criticar a decisão de Bush de retirar oito mil soldados, dizendo ser “tímida” a proposta. McCain, que defende a “ocupação eterna” do Iraque, bem como sua polêmica candidata à vice-presidente, Sara Palin, governadora de direita do Estado do Alaska, saíram em defesa da posição do presidente. A questão que Obama levanta é que, caso vença McCain, a política externa americana, em especial para o Iraque continuará “mais do mesmo”, ou seja, sem mudança alguma.


 


 


O que esta em jogo nesse debate é o acerto da decisão tomada pelo alto comando das forças conjuntas de ocupação do Iraque, de ampliar os efetivos no Iraque, como forma de quebrar de vez a resistência da militância patriótica de libertação e depois proceder a uma retirada mais rápida. Afinal, essa tática foi correta? Deu certo ou fracassou? Se Obama reconhecer que foi acertada, ele perde pontos. Mas, se na prática essa operação der mesmo certo, será ponto para McCain.


 


 


A questão central é outra


 


 


Do nosso lado, do lado das forças que defendem a soberania do povo iraquiano e da expulsão das tropas invasoras das terras árabes, devemos ter outra abordagem da questão. Quanto à retirada das forças americanas do Iraque, é positivo que Obama, caso saia vencedor, as retire o quanto antes e deixe os iraquianos gerirem o destino de seu país e do seu próprio povo, sem a tutela estadunidense. A questão é outra.


 


 


O Obama tem emitido uma opinião que é extremamente polêmica. Trata-se de defender a retirada americana do Iraque, mas tem defendido uma política “global de combate ao terrorismo” (sic). E para ele isso significa deslocar contingentes de tropas para o Afeganistão, ao que ele considera o verdadeiro país inimigo dos Estados Unidos, os responsáveis pelos ataques há sete anos das torres gêmeas em 11 de setembro de 2001 em Nova York e por estar lá o “terrorista” mais procurado, mentor intelectual desse ataque, que é Osama Bin Laden.


 


 


Ou seja, Obama quer a retirada mesmo do Iraque, mas defende ampliar a presença de tropas americanas num dos países mais pobres e mais fracos de toda a Ásia. Uma verdadeira covardia militar! Mas mais do que isso: Obama cai no mesmo discurso surrado da direita americana, fundamentalista, de eliminar Osama como se este fosse a pessoa mais importante e estratégica do mundo hoje, da atualidade, uma espécie de inimigo público número um da humanidade e particularmente dos Estados Unidos.




Não posso concordar com essa visão de Obama, de sua estratégia de política externa americana. Claro que ele demarca campo com a política de George Bush. De certa forma, tem razão ao criticar o ataque ao Iraque, pois Saddam nunca teve nada com a Al Qaeda e nem apoiou os ataques às torres gêmeas em NYC. Nunca teve também armas de destruição de massa. Por isso, Bush errou. Mas, Obama defende abertamente o ataque ao Afeganistão, em uma linha que intelectuais ditos de esquerda chama de “guerra justa”. Ora, como diz Michel Chossudovsky, essa guerra contra o Afeganistão é uma “guerra de castigo” e pune um povo inteiro pelo simples fato que nesse país atua uma organização que teria planejado e executado o ataque ás torres.


 


 


Obama hoje se soma ao discurso conservador, adotado pela mídia grande em todo o mundo de “guerra global contra o terrorismo”. Esse discurso é simplesmente o mesmo adotado também pelos dois maiores partidos estadunidense que em nada diferem nesse aspecto. Pode ser que seja um discurso meramente eleitoral, para não perder mais pontos do que já vem perdendo. A indicação de uma mulher conservadora, especialmente em termos reprodutivos, como a Sara Palin, fez com que Obama perdesse pontos nas pesquisas nacionais dos últimos dias. Até Sara entrou nesse debate, apoiando abertamente as posições de Bush e de McCain e atacando Obama.


 


 


Assim, considero arriscada a operação que Obama tem feito, seja ela por convicção ou por oportunismo eleitoral. Colocar hoje como central na política externa norte-americana o reforço das tropas no pequenino e mais pobre país da Ásia é um erro crasso que vai lhe custar caro.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor