Sob os signos da vitória da condenação de Abdelmassih
Falta prender o médico para libertar suas vítimas
Publicado 01/12/2010 00:01
A juíza Kenarik Boujikian Felippe, em 23 passado, tornou pública uma sentença inédita em nosso país: a condenação a 278 anos de prisão em regime fechado do renomado especialista em reprodução humana assistida (RHA) Roger Abdelmassih, 67 anos. Consta na sentença (195 páginas), que vale a pena ser lida: "Agora não se fala mais em indícios, mas de certeza. Está comprovado que o réu está a delinquir de longa data, de forma reiterada, enfrentando as vítimas, com menoscabo à Justiça, assumindo posição de superioridade, de ser inatingível". Perfil de um sociopata e criminoso Deus da Medicina.
Relembro o caso em um trecho de um artigo meu: "Desde quando uma ex-funcionária do dr. Roger declarou ao Ministério Público de São Paulo que ele a beijou à força (18.4.2008), muita água já rolou: até o inquérito sumiu! Foi encontrado no banheiro do fórum! Em 9.1.2009, a Folha de S.Paulo veiculou matéria dizendo que o médico estava sendo investigado. Apareceram cerca de 65 mulheres relatando crimes cruéis, de abusos sexuais a estupros. Os fatos ocorreram no consultório do médico, exceto um, há 40 anos, quando a atendida por ele num plantão em Campinas foi convidada a fazer sexo e teve de aturar um pênis passeando pelo seu corpo – depoimento lapidar para que o MP pedisse a prisão dele, no último 17 de agosto, sob o argumento de que pratica crimes sexuais compulsivamente há 40 anos. Logo, é perigoso" ("Sociopatas não são doentes, seus crimes devem ser punidos", Opinião, 23.11.2009). www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=9404
Roger Abdelmassih ficou preso de 17.8 a 24.12.2009. Seu registro médico foi suspenso pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo em dezembro de 2009 e caçado em definitivo em 23.7.2010. Entre a suspensão e a cassação, Abdelmassih formalizou pedido de renúncia à medicina – modo honroso de deixar a profissão e a ela retornar quando desejasse. Solicitação sabiamente rejeitada pelo conselho. O condenado continua em liberdade e especula-se que assim continuará. No Brasil, sentenciado com 70 anos de idade tem o tempo prescricional diminuído pela metade e é comum que condenados de situação econômica abonada encontrem brechas em filigranas jurídicas e continuem em liberdade. Exemplo recente é o do matador de Sandra Gomide (19.8.2000), Pimenta Neves, réu confesso e condenado a 19 anos de prisão (5.5.2006), que só ficou preso de 30.8.2000 a 23.3.2001, antes de ser sentenciado!
Uma das vítimas do algoz declarou: "A gente teve muito medo, foi uma batalha muito grande, encontramos muitas portas fechadas, mas a satisfação é tão grande de você ver o resultado da Justiça que vale a pena".
Falta prendê-lo para libertar suas vítimas.