Teatro de horrores e crimes – o que fazem com o Brasil

O Brasil chafurda sob a nova direção – novo que já é senil.

Aprofunda-se o que já estava embutido no golpe do impeachment e por meio de vasto lawfare nas beiradas da Constituição, com a ofensiva para destruir o sistema político e a esquerda em particular.

Acusar os assassinos de Marielle é importante, mas não mais que os mandantes. A ficha corrida do motorista e do matador profissional miliciano, titular da escola do crime, é aquele horror que desvenda as vísceras da segurança pública, no Rio de Janeiro e outras partes. Dois pedalinhos foram penalizados mais que 117 fuzis automáticos, a maior apreensão já feita no Rio, de posse do criminoso. As amizades eletivas com o mundo político do Rio e com Flávio Bolsonaro ainda dará o que falar.

A Lei contra o Crime de Moro é criminosa por dar seguimento à continuada investida contra o sistema político que lá foi chocado, em nome do combate à corrupção. Associado à inacreditável maluquice de querer o Ministério Público gerindo fundo de 2,5 bilhões – de acordo lesa-Pátria entre a Petrobrás e EUA – desvela mais o iceberg: há um Partido da Lava Jato, é forte, se julga intocável e tem um projeto de poder. Por isso Moro aceita o Ministério e cala-se diante das evidências múltiplas do clã Bolsonaro e seu partido fazerem “mais do mesmo” em termos de corrupção.

Na outra ponta, crime de outra natureza, Paulo Guedes propõe o Armagedon. Chantageando e mistificando, quer arrancar 1 trilhão dos aposentados e beneficiados pela seguridade social (constitucionalmente) para voltar ao assistencialismo para miseráveis e deserdados. Dizer que tem um Plano B, que quer os deputados mandem no orçamento todo (marola: falou em 1,5 tri que podem ser desvinculados) é conversa da carochinha – só produzirá danos ao financiamento da Educação, Saúde e outras pastas sociais. Essa é uma lei férrea da própria premissa da agenda do Ministro.

As aparências enganam, mas nesse caso dão fotografia precisa do que é o clã Bolsonaro, o que é o “mercado” desarraigado de qualquer interesse social e nacional, o que é o Ministério da Justiça e o Ministério Público.

São o produto, à brasileira, da crise do neoliberalismo senil, que não tem consenso e esperanças a oferecer a ninguém – rigorosamente porque nem sequer sairemos dos baixíssimo índices de crescimento econômico após uma recessão de 3 anos que bateu o PIB e a renda dos brasileiros em algo como 10% de perdas. A indústria vai pro brejo de vez. O “mercado” financeiro não paga almoço nem quer mais intermediários para comandar a economia. Quem viver, verá.

Aliás, nada como os teimosos fatos da vida. Agora sabemos, por André Lara Rezende – com alguma coragem, reconheça-se – que “a teoria macroeconômica está em crise. A realidade, sobretudo a partir da crise financeira de 2008 nos países desenvolvidos, mostrou-se flagrantemente incompatível com a teoria convencionalmente aceita. O arcabouço conceitual que sustenta as políticas macroeconômicas está prestes a ruir”.

Quer dizer, o consenso de Washington não apenas fez água, estava conceitualmente errado! Ele continua: “durante o século XX, o liberalismo econômico perdeu a batalha pelos corações e pelas mentes dos brasileiros. Embora a história tenha mostrado que seus defensores, desde Eugênio Gudin, estavam certos sobre os riscos do capitalismo de Estado, do corporativismo, do patrimonialismo e do fechamento da economia à competição, foram derrotados porque adotaram um dogmatismo monetário quantitativista equivocado. Tentaram combater a inflação promovendo um aperto da liquidez. O resultado foi sempre o mesmo: recessão, desemprego e crise bancária.” (Grifo meu, ora, ora!!!). “Expulsos do comando da economia pela reação da sociedade, seus defensores recolhiam-se para lamentar a demagogia dos políticos e a irracionalidade da população. Quase sete décadas depois de Gudin, os liberais voltam a comandar a economia”. Com alguma elegância ele manda seu recado para Guedes “O apego a um fiscalismo dogmático e a um quantitativismo anacrônico pode levá-los, mais uma vez, a voltar para casa mais cedo do que se imagina (grifo meu, ora, ora!!!).”

Vai sobrar pro Brasil, perdido no mato sem cachorro, sem projeto de nação, sem estratégia para isso nem mesmo para a relação com os vizinhos sul-americanos, metido em confusão que não é conta do país. Neocolonizado. Autoritário. Avançando mais e mais para a incivilidade e o irracionalismo – está aí o atentado na escola em Suzano que matou jovens brasileiros.

Diria Vinícius: se foi prá desfazer por que é que fez? Como sempre, entretanto, o Brasil se levantará pelas mãos do povo, mais uma vez. Uma coisa é certa: é preciso unir o máximo de brasileiros na luta contra o autoritarismo, a crise em que mergulhou o Brasil e a neocolonização do país. Essa é a lição da história.

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