Um causo para Inácio: a arte de ser Mágico de Oz
Meu neto Inácio Oliveira Fernandeschegou aos pampas gaúchos no romper da madrugada de 4 de agosto. Filho da Débora e do Paulo, ainda infante, tem uma agenda com o Brasilzão, o cosmopolita e o profundo, para conhecer uma grande família no Nordeste, no Centro-Oeste eas delícias dos ares das montanhas de Minas, pois Belo Horizonte é parte do DNA de nossas vivências.
Publicado 09/08/2012 08:39
Ele também terá de aprender e se conformar que nasceu numafamília de mulheres falantes de nascença, então, que prepare as"oiças" para a bodejação.
Inácio é um mimo para nós e alegranossas vidas, a exemplo do Mágico de Oz, que atendeu a todos: ao Espantalho,deu um cérebro de alfinetes – com o qual, o feliz boneco de palha julga-se oser mais inteligente do mundo; ao Homem de Lata, um coração falso; ao Leão, umabeberagem de coragem; e, para Dorothy, construiu um outro balão para sair deOz. Sonho que ele ame poesia e aprenda com Fernando Pessoa que "um dia dechuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem; cada um como é".
Tenho um repertório de lindashistórias de Trancoso, contos de Carochinha e causos da tia Custódia, que euvenerava, e que "não tinha onde morar e rodava as casas dos parentes, deuma casa para outra até a próxima briga. Fazia uma comida maravilhosa, contavabelas histórias, fazia renda de bilro e fiava algodão. Mas era uma encrenqueirade marca maior quando decidia beber cachaça. Aprontava. Passava meses e atéanos sem beber um gole, mas, quando bebia, adeus, censura, ficava nua narua", para mostrar o "delegado" quando a molecada dizia que iachamar o delegado…
Ouvirá histórias da meninice da mãe:um "vestido de Luiz Gonzaga", feito por exigência do bisavô Braulinopara levá-la a um show do velho Lua no qual o pai velho a colocou nos braços deGonzagão dizendo: "Mestre, eu trouxe a minha bisneta para lhe conhecer,pá, quando ficar grande, poder dizer que conheceu Luiz Gonzaga, o Rei doBaião". Era 1983, show de Luiz Gonzaga no Clube Tocantins, em Imperatriz(MA). "O bisavô, que insistiu em ver antes com qual roupa ela iria, queriaa bisneta bem bonita para conhecer o ídolo dele. Roupa de gala, disse-me ele.Exigência satisfeita, pois o vestido da Débora era de ‘broderi’ (brocado) compequenas flores. Belíssimo e tão especial que ela o chamava de ‘meu vestido doLuiz Gonzaga’" (O TEMPO, 2.7.2003).
"Mas era uma
encrenqueira de marca maior quando
decidia beber cachaça.
Aprontava. Quando
bebia, adeus, censura,
ficava nua na rua".
Assim sendo, Inácio, um gauchinho deraízes lá do sertão do Maranhão, vai transitar entre fandango e música dosertão nos maviosos acordes dos sanfoneiros do Sul e do Nordeste e aprenderá acantar "É Disso que o Velho Gosta": "…Meu pai era um gaúchoque nunca conheceu luxo/ Mas viveu folgado enfim, e quando alguém perguntava/ Oque ele mais gostava, o velho dizia assim: churrasco e bom chimarrão/ Fandango,trago e mulher/ É disso que o velho gosta/ É isso que o velho quer…"(Berenice Azambuja e Gildo Campos).
Como a mãe, nosso guri adormecerá ao som de Vivaldi egostará de "O Xote das Meninas", de Gonzagão: "Mandacaru quando‘fulora’ na seca/ é um sinal que a chuva chega no sertão/ Toda menina que enjoada boneca/ é sinal de que o amor já chegou no coração (…) Vestido bemcintado, não quer mais vestir gibão/ Ela só quer, só pensa em namorar".Ah, e como Clarinha apreciará passarinhos livres e a pedir: "Quero verboi, vovó!". E nos perderemos na ilha de São Luís do Maranhão, atrás deseus mil e um bumba meu boi, degustando arroz de cuchá, torta de camarão,refresco de cajá, cambica de murici e creme de abricó, num mundo de poesia…