Um poema de Maiakovski

Há quase um ano, Adalberto Monteiro, presidente da Fundação Maurício Grabois, me fez um convite: apresentar um projeto gráfico e fazer ilustrações para o poema "Vladimir Ilitch Lenin", do poeta russo Vladimir Maiakovski. O projeto era grande: pela primeira vez, o poema estava sendo traduzido diretamente da língua russa para a nossa língua portuguesa, por Zoia Prestes, pedagoga e tradutora brasileira com formação acadêmica em Moscou.

 

 

Aguardei a tradução ficar pronta para começar a trabalhar, mas depois de alguns dias de pesquisa, já havia resolvido a direção que tomaria: iria me inspirar na estética da Vanguarda Russa. Inclusive para homenagear o próprio Maiakovski que era parte ativa dos grandes artistas e intelectuais que formaram um movimento de modernização da vida russa: adeptos da Revolução Socialista de 1917, eles conjuminaram suas pesquisas e experiências artísticas com as ideias de um novo mundo que eram defendidas pelo líder do movimento operário, Vladimir Ilitch Lenin.

Li o poema algumas vezes antes de começar a trabalhar. Acontece uma coisa com este poema, assim como com outros de Maiakovski. Entre eles o famoso poema ao Sol, onde ele criou a frase "Gente é pra brilhar", repetida por Caetano Velloso, nos bons tempos em que Caetano tinha esperança no futuro (pois o mundo que ele enxerga hoje é um mundo triste)… Mas neste e em outros poemas do Maiakovski – eu dizia – algo acontece: o poema vai crescendo dentro da gente, vai ocupando espaços, vai se avolumando, como se nos inflasse junto com ele. O resultado disso é que ao final da leitura já não somos mais do tamanho que éramos quando começamos. A gente alcança um tamanho maior. A gente se agiganta, porque a poesia de Maiakovski vai construindo edifícios dentro de nós…

O poema traz, fundamentalmente, esperança. Muito se falou em fim do socialismo na década de 1990. Mas a crise capitalista paradoxalmente traz de volta o Socialismo para dentro do debate atual. Por isso esse poema não poderia ter surgido em melhor hora. É um poema que fala sobre Vida, mesmo usando como tema a morte de Lenin. Lendo o poema, sabemos que a história da humanidade é muito rica e, mais ainda, podemos comprovar que o sonho de um mundo justo, que alimentou gerações e gerações de pessoas, esse sonho não acabou!

Na concepção do projeto gráfico, imediatamente tomei a decisão de homenagear a vanguarda russa e seus artistas. Sabemos que os artistas russos das primeiras décadas do século XX viviam em meio a uma efervescência criativa que atingiu todos os setores da sua cultura e inspirou artistas pelo mundo inteiro. Não somente as artes plásticas surgiram com inúmeras novidades, como o Construtivismo de Malevitch e a Abstração de Kandinski.

No cinema, Sergei Eiseinstein, com seu “Encouraçado Potenkin” foi tão revolucionário que até hoje diretores de cinema ainda bebem em sua fonte. Na música, Prokofiev, Schostakovsky se destacaram. Em relação ao design gráfico, os cartazistas russos foram absolutamente originais e inspiradores para gerações e gerações de designers gráficos do mundo todo. Na fotografia, Alexandr Rodtchenko inovou com ângulos novos. No teatro, na dança, na literatura, na poesia, enfim, em qualquer área das artes, os artistas russos despontaram com um vigor criativo como não se tinha visto antes.

Por isso também, no processo de construção das ilustrações, minha idéia era homenagear alguns desses artistas russos: desde Ilya Repin, passando por Natalia Gontcharova, Pavel Filonov, Kasimir Malievitch, Vladimir Tatlin, Alexandr Rodtchenko. E o próprio Maiakovski, que era além de poeta, ator, dramaturgo, artista plástico, cenógrafo.

O livro foi lançado no último dia 5 de setembro no Espaço da Revista CULT em São Paulo, com grande repercussão na imprensa escrita e na internet. Um projeto como esse, como bem disse meu amigo Jeosafá Gonçalves, deve ser a porta que abrirá a Editora Anita Garibaldi e a Fundação Maurício Grabois para publicar outros tesouros da literatura mundial e nacional, com a mesma qualidade de “Vladimir Ilitch Lenin”.

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