Um Reencontro Inesperado
Na semana passada, encontrava-me, à noite, esperando algumas companheiras e companheiros para uma reunião sobre política. Quando aparece e senta-se ao meu lado um jovem moreno de uns vinte e oito a trinta anos, aproximadamente. Sabia o meu nome e com um l
Publicado 21/04/2007 19:30
Perguntou-me como ia a luta, as perspectivas futuras para 2008, a situação das esquerdas em Alagoas, o governo Lula, o engajamento dos jovens em todo esse processo, e o diálogo não terminava, os assuntos se sucediam. Não sabia quem era, mas em decorrência da atividade militante, fui me enredando na conversação. Em determinado momento, perguntou-me se eu o conhecia. Fiquei um pouco embaraçado. Não me lembrava de tê-lo visto antes.
Ele riu compreensivo, e disse-me que era filho de José Cícero, líder sindical, presidente do Sindicato dos trabalhadores rurais de Viçosa com intensa atuação em Capela, Cajueiro e adjacências, na zona da mata alagoana.
Fui envolvido em um redemoinho fulminante de lembranças. Seu pai foi membro do PCdoB no começo dos anos oitenta, passados. O primeiro líder sindical rural que entrou para o PCdoB, depois de 1964. Era um ativista entusiasmado por entender a teoria marxista, além da luta democrática, porque dos problemas dos trabalhadores dos canaviais ele dominava e ensinava.
Mostrou-me um texto que estava fazendo sobre a vida do pai. Pouco antes de começarmos a reunião, puxou de uma pasta e me presenteou um CD de Ivan Lins comemorando vinte anos de carreira. Todas as músicas, se não estou enganado, referiam-se ao período da resistência democrática.
Roda Viva do Chico Buarque, O Bêbado e o Equilibrista, Desesperar Jamais, Aos Nossos Filhos, Hino à Bandeira Nacional, Novo Tempo e outras canções. Era a memória do pai, brutalmente assassinado em 1984 pelos latifundiários, cultivada pela música. Passados dias, ouço sem parar no carro o CD, uma repetição que não me cansa. Principalmente os Devotos do Divino, … dando água para quem tem sede e pão para quem tem fome… porque ele nascerá do povo.
Nada é vão, nem os tempos mais recentes do passado. Em minha frente estava J. Cícero renascido através do filho. Uma das mais evidentes lições na minha vida.