Vem aí o “bacalhau” da Amazônia

Dentro da concepção de que não há desenvolvimento sem sustentabilidade e nem sustentabilidade sem desenvolvimento, a Secretaria de Estado da Produção Rural do Governo do Amazonas – desde 2007 sob a nossa coordenação – acaba de assinar a ordem de

O desafio da Amazônia é fazer aquilo que o mundo não fez: se desenvolver e preservar os seus extraordinários recursos naturais, para que esse desenvolvimento efetivamente possa ser chamado de sustentável.


 



A nosso modo de ver não há contradição nesse desafio. Ao contrário. Mas é preciso compreender em que sistema social isso pode acontecer com maior eficiência e qual concepção econômica e social pode ser mais adequada.


 


A concepção “produtivista”, que advoga o crescimento econômico sem nenhuma preocupação ambiental, se relevou economicamente insuficiente, além de social e ambientalmente desastrosa. Sua aplicação acrítica resultou em grandes áreas degradadas na Amazônia e resultado econômico duvidoso.


 


Por outro lado, a concepção “santuarista”, que advoga o bloqueio da Amazônia, não consegue explicar como a humanidade conseguirá viver sobre o planeta terra sem a transformação de parte de seus recursos naturais em recursos materiais. Essa tarefa é difícil em qualquer sistema econômico e praticamente impensável numa sociedade capitalista, tanto pela elevada concentração de rendas e acesso aos bens materiais, como pela lógica do lucro máximo, o que torna impossível o acesso a novas tecnologias ambientalmente sustentáveis por serem, ainda, relativamente onerosas.


 


Diante desse impasse nós entendemos que a concepção “sustentabilista”, que busca a conciliação entre produção e preservação, é a alternativa mais adequada. Para que isso aconteça é preciso que haja, de fato, um processo produtivo que busque a transformação dos extraordinários recursos naturais em riqueza material, que eleve o padrão de vida de homens e mulheres que trabalham e vivem na Amazônia.


 


Uma das alternativas da Amazônia é, sem dúvidas, o beneficiamento de seu rico estoque de pescado, especialmente espécies nobres como o “pirarucu” capaz de ser transformado num dos melhores exemplares de “bacalhau”.


 


Para quem eventualmente desconhece, “bacalhau” não é um peixe e sim um processo industrial. Várias espécies de peixe são transformadas em bacalhau. O mais famoso é o Cod (Gadus morhua), conhecido como “bacalhau do Porto”, apesar de não haver bacalhau em águas lusitanas. É semelhante ao bacalhau do Pacífico (Gadus macrocephalus), menor, mais barato e de qualidade inferior


 


Outras espécies utilizadas são: Ling (Molva molva); Saithe (Pollachius virens); Zarbo (Brosme brosme) e agora, a partir de novembro, o Pirarucu (Arapaima gigas) ou peixe vermelho em tupi guarani.


 


O Brasil não produz bacalhau. As indústrias do Amazonas serão as primeiras no Brasil e da América do Sul. Entretanto, como é um grande consumidor, importa algo como 30% da produção da Noruega. Em torno de 20 mil toneladas/ano ou alguma coisa próxima dos 800 milhões de reais.


 


A partir de novembro, quando inaugurarmos as plantas industriais de Maraã e Fonte Boa, ambas na região do Alto Solimoes, começaremos a superar esse gargalo. As duas unidades terão uma capacidade instalada de 3.500 toneladas, as quais serão em parte atendida pelo pirarucu manejado na reserva ambiental de Mamirauá.


 


 


Atualmente os pescadores que atuam na reserva ambiental vendem o quilo do pirarucu a 3,50 reais. Após a inauguração da indústria poderão vender por 20 reais, no mínimo, cada quilo processado. Os dois municípios, cujo orçamento anual não chega a 30 milhões de reais, terão suas economias irrigadas pelo faturamento de 70 milhões reais das industrias ali instaladas.


 


As indústrias, como se pode ver, verticalizarão a produção, agregarão valor ao produto primário e, efetivamente, promoverão a produção com sustentabilidade.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor