Wikileaks e a liberdade de imprensa
Publicado 21/12/2010 17:38
O mundo inteiro está envolto em publicações concernentes às notícias postadas no site Wikileaks, situado na Suécia, sobre informações confidenciais vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos “sensíveis” repassados por fontes anônimas. Desde que entrou no ar em dezembro de 2006, o Wikileaks tem revelado documentos considerados “polêmicos” como um manual de instruções para tratamento de prisioneiros na prisão militar norte-americana de Guantánamo, em Cuba.
O caso do site Wikileaks, no entanto, traz à tona uma reflexão sobre a liberdade de imprensa. Como exemplo, temos a própria prisão do diretor do site, o australiano Julian Assange, jornalista e ciberativista. Foram várias publicações como um vídeo mostrando civis iraquianos sendo mortos durante um ataque aéreo das forças militares dos Estados Unidos, em abril de 2010; publicação de uma compilação de mais de 76.900 documentos secretos do governo americano sobre a Guerra do Afeganistão; publicação de um pacote com quase 400.000 documentos secretos, reportando torturas de prisioneiros e ataques a civis pelos norte-americanos e seus aliados, na Guerra do Iraque; bem como a publicação de uma série de telegramas secretos de embaixadas e do governo estadunidense, no último dia 28 de novembro.
A partir daí, Julian Assange foi cassado pela Interpol, acusado de violência sexual por duas mulheres suecas, com as quais teria tido relação forçada, acusação que Assange rebate dizendo que o sexo foi consentido. Por essas acusações o diretor do Wikileaks foi preso por 10 dias em Londres e agora está solto sob custódia e aguarda em liberdade uma decisão sobre a sua extradição.
O curioso é que essa acusação apareceu somente após o “mal estar” causado pelas polêmicas informações do site comandado por Assange. Embora não seja especialista em investigação, tentei montar as peças desse quebra-cabeça durante um Roque sobre meu adversário no jogo de xadrez. Entre um movimento especial dos peões em meu tabuleiro, chamado en-passant, pareceu-me que tudo havia sido montado de última hora como parte de uma conspiração comandada pelos EUA.
O caso envolvendo o site Wikileaks revela uma contradição na própria Carta dos Direitos Fundamentais da União Européia, datada de Junho de 1999, que por sua vez engloba parte da Carta de Princípios Gerais consagrados na Convenção Européia dos Direitos Humanos de 1950. A carta dos direitos fundamentais dos cidadãos europeus defende em seu capítulo II que a liberdade de pensamento, de expressão e de informação é um direito básico do cidadão europeu, no entanto o que se viu no caso Wikileaks foi um total desprezo a esse documento quando a liberdade de expressão feriu aos interesses de grandes potências econômicas mundiais como é o caso dos Estados Unidos.
No jogo de xadrez – ao qual recorro vez ou outra para relaxar e pensar – quando o Rei está para ser atacado por uma peça inimiga diz-se que ele está em xeque. Da mesma forma, o Wikileaks encurralou as potências imperialistas com suas denúncias e estas, por sua vez, colocaram toda a economia mundial a seu serviço, através de uma sistemática operação de desmonte da credibilidade de Julian Assange. Afinal, a exemplo do xadrez, no final da jogada o Rei não pode ficar em cheque, caso contrário a posição passa a ser de mate e o jogo termina com derrota para o lado que se move.