Zema compromete receitas futuras

A situação de desrespeito com os milhares de servidores públicos de Minas Gerais, que tem seus salários parcelados desde de 2015, ganha agora um novo capítulo.

A promessa feita por Romeu Zema de pagar o 13º salário em dezembro, mediante a aprovação pela Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais da antecipação de recebíveis do Nióbio, parece não surtir efeito. Além de uma medida questionável, pois pode comprometer a receita de futuros governos, tem servido até agora apenas como peça publicitária do governador, sem nenhuma garantia concreta de prazo.

A Assembleia Legislativa de forma unânime aprovou na semana passada a autorização para que o governo receba, de forma antecipada, os recursos provenientes do Nióbio até o ano de 2032. Mesmo com minha contrariedade, pois discordo do mérito dessa discussão sobre a situação fiscal do Estado, entendi esse gesto dos deputados estaduais como de boa vontade com o governo e com os milhares de servidores que esperam receber seu 13º salário ainda em dezembro. Contudo, Zema agora não joga mais no colo da Assembleia a responsabilidade do não pagamento do 13º, a bola da vez são os bancos, que de acordo com o governador têm processos lentos e burocráticos para finalizar essa famigerada operação de crédito. Como se vê, a ineficiência nunca está com o governo, os culpados são sempre terceiros – entes públicos ou privados. Sobrou até para os bancos.

O fato é que Zema foi eleito desconstruindo seus antecessores petistas e tucanos. Se apresentou como um administrador moderno e capaz de reerguer a economia do Estado. Passado um ano de seu governo, o balanço é que os salários continuam atrasados e a economia claudicante. Em entrevista essa semana, o governador, numa espécie de balanço do primeiro ano, destacou como êxitos de sua gestão até aqui, algo em torno de R$ 50 bilhões em protocolos de intenção que foram assinados com a iniciativa privada, como promessas de se transformarem em investimentos futuros. Além disso, disse que o governo tornou menos burocrático os trâmites internos do Estado, ou seja, capitalizou medidas corriqueiras de gestão, muitas delas já elaboradas pelos governos passados. O que realmente interessa saber é quantas empresas o governo trouxe para Minas, quais empregos foram gerados, quantos dos cinco milhões de mineiros foram tirados da faixa abaixo da linha de pobreza. Isso o governador não diz.

O governo de Minas e os grandes bancos e grupos econômicos que com ele sufocam o Estado, querem mesmo é liquidar a Cemig, a Copasa, a Codemge e inúmeros outros órgãos e instrumentos de indução de crescimento econômico do Estado. Querem aprovar o ingresso de Minas no Regime de Recuperação Fiscal e tornar Estado mínimo para os pobres e máximo para as elites. O governo não apresenta uma medida estrutural para a economia, fala apenas em privatizações e cortar direitos, como quer fazer com a reforma da previdência. O problema da falência política que assolou o Brasil e elegeu pessoas sem nenhuma vocação pública em 2018, como os governadores de Minas, Rio de Janeiro, entre outros estados, é que em momentos complexos como esse que vivemos o discurso anti-esquerda é insuficiente para atacar os problemas reais, que são muitos como o 13º salário, o desemprego, a segurança, a saúde e a educação. Uma coisa é ganhar eleição e outra bem diferente é fazer uma boa gestão.

Enquanto isso, os servidores, que são o elo fraco da cadeia, estão com autoestima abalada, com suas famílias apreensivas e com o Natal e o Réveillon comprometidos. Até agora Zema não mostrou a que veio, faz uma gestão medíocre e não tem nenhum papel na política nacional, algo incompatível com a boa tradição da política mineira.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor