A direita quer cassar Lula

Para quem se queixava de um fim de campanha presidencial tedioso, com Lula cravado nos 50% e Alckmin nos 27%, acabou o tédio. O bloco PSDB-PFL entrou nesta segunda-feira (18) com pedido de liminar no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) onde requer a inelegibilidade do presidente e a cassação de sua candidatura. A 12 dias da eleição, pretende ganhar assim o que jamais ganharia nas urnas de 1º de outubro.



A direita, sem apoio popular, sem votos e sem escrúpulos, volta-se para a via extra-eleitoral. Leva à prática sua já várias vezes declarada autocrítica por não ter pedido o impeachment de Lula no auge da crise de 12 meses atrás. Na época achou que sangraria o presidente até abatê-lo na eleição; não deu certo, busca outro caminho por trás das urnas.



É um golpe — ainda que o uso da palavra escandalize os editorialistas da mídia grande. Um golpe na tenebrosa tradição de 1937, 1954 e 1964. Um golpe que reclama vigilância e resposta à altura por parte da maioria pró-Lula.



A alegação levada ao TSE é pueril. Porque um ex-agente da PF acusou “uma pessoa de nome Froude ou Freud”, que seria um assessor da Secretaria Particular da Presidência da República, que teria se empenhado em comprar um dossiê com denúncias contra José Serra, que desde sexta-feira estão em todas as bancas, na capa da revista IstoÉ, pretende-se impedir o pronunciamento soberano de 125.913.479 eleitores, daqui a dois domingos.



Com o escândalo fabricado, trata-se de escamotear o outro, o que verdadeiramente merece a vigilância da opinião pública e a investigação do poder público: Darci Vedoin diz ou não a verdade quando afirma à IstoÉ que “quando o Serra era ministro foi o melhor período para nós [da máfia das ambulâncias]”? É um truque de ilusionismo oposicionista, com o auxílio complacente dos holofotes do grosso da mídia.



Por certo nem o mais alucinado linha-dura do bloco direitista se atreve a imaginar a cassação de Lula a esta altura. O golpe tem outro sentido. Primeiro, colocar na defensiva a campanha pela reeleição, quando esta tem todas as condições para ganhar impulso na reta final, influenciando as sucessões estaduais e a votação proporcional, em uma grande “onda Lula”. Segundo, manter sob suspeição a legitimidade do hoje provabilíssimo segundo mandato do presidente, se possível para truncá-lo.



A resposta ao golpe se dará em primeiro lugar na intensificação da campanha e nos votos de 1º de outubro. Mas não só aí. O episódio é mais um capítulo de um enfrentamento de longo fôlego, entre povo trabalhador e elite exploradora, patriotas e colonizados, democratas e golpistas. Ele alerta a maioria pró-Lula para a necessidade de compreender esse enfrentamento, preparar-se para ele, arrostá-lo e vencê-lo.