A grandeza da classe trabalhadora

O Dia Internacional dos Trabalhadores tem um significado histórico de grandes dimensões. A data representa a luta de um ator que entrou em cena quando o mundo suplantou a servidão medieval, com o advento do capitalismo como modo de produção dominante, na busca por direitos e pelo futuro sem exploração. A evolução dessa batalha possibilitou conquistas que, agora, estão na aça de mira dos que tentam impedir a marcha do progresso social.

No Brasil, os trabalhadores também escreveram uma história épica, que custou vidas e martírios, e resultou numa legislação social e trabalhista moderna. Desde o surgimento das primeiras organizações de combate à exploração assalariada, na virada do século XIX para o século XX, o país registrou episódios que podem ser considerados basilares do processo de desenvolvimento do país.

Além das questões específicas, a classe trabalhadora brasileira, assim como as de outros países, atuou de forma decisiva na defesa da pátria e dos valores democráticos. Antes mesmo da consolidação de algumas conquistas do começo do século XX, no pós-Revolução de 1930, os trabalhadores participaram de resistências como o ciclo de protestos e greves pela paz, contra a Primeira Guerra Mundial, que atingiu o pico com a grande greve geral de 1917.

Essa combatividade esteve presente também em outros períodos históricos, como o enfrentamento com a onda nazifascista da Segunda Guerra Mundial, e foi uma das principais resistências à ditadura militar de 1964. As corajosas greves em Contagem (MG) e Osasco (SP) em 1968, em pleno clima do Ato Institucional número 5 (AI-5) – a medida mais dura do regime militar contra o povo –, fechou um ciclo de lutas, que seria reaberto a partir da 1978 com a retomada das mobilizações que deram enorme contribuição para a derrocada da ditadura.

Após atravessar o período neoliberal – também com grandes lutas – e o ciclo de governos democráticos e progressistas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff – com importantes conquistas –, a classe trabalhadora brasileira volta a se deparar com um cenários hostil, de ataques frontais às suas conquistas históricas. Uma ação de grande envergadura empreendida por um governo de perfil autoritário.

Os enfrentamentos à realidade pós-golpe do impeachment de 2016 têm retomado a prática histórica dos trabalhadores, inclusive na contribuição para que o país recupere a plena vigência do regime democrático e para conter o avanço do autoritarismo bolsonarista. O ato unificado deste Primeiro de Maio de 2020, amplo e unificado, é uma demonstração de que a classe trabalhadora brasileira compreende bem a importância da defesa do país, do povo e da democracia.

A saúde, o emprego e a renda dependem de ações políticas. Ao contemplar a presença de representantes dos Poderes da República – Rodrigo Maia (presidente da Câmara dos Deputados), Davi Alcolumbre (presidente do Senado) e Dias Toffoli (presidente do STF) – e de lideranças políticas como os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, Luciana Santos, Manuela d,Ávila e o governador do estado do Maranhão Flávio Dino, o ato mostra que as centrais sindicais acertam em suas decisões táticas.

Sempre que o autoritarismo avança, as primeiros e principais vítimas são os trabalhadores. Sem democracia e liberdade, eles ficam impedidos de se organizarem para participar com voz ativa no processo econômico e político do país. Neste ato, as centrais sindicais e demais organizações democráticas definiram que a defesa da democracia vem em primeiro lugar, uma condição essencial para as demais formas de luta.

A iniciativa de fazer a transmissão pela internet também demonstra que as centrais sindicais enfrentam mais uma grande adversidade de forma criativa. Além de enfrentar as condições criadas com a pandemia da Covid-19, elas mostrarão o ato para uma grande quantidade de trabalhadores.

A classe trabalhadora brasileira demonstra, assim, que a defesa da vida, do emprego, do salário e da renda se compõe pelo aspecto político. Demonstra grandeza ao defender o isolamento social e apontar meios para que o Estado garanta a sobrevivência do povo e a defesa da pária. Essa grandeza também se verifica com o trabalho abnegado dos profissionais da saúde e de outros serviços essenciais, muitas vezes sacrificando a própria vida.