A impaciência da Economist com Serra e a pobreza no Brasil
O Brasil vai vencendo os casos mais escandalosos de pobreza, mas há muito ainda a fazer. Esta é a conclusão […]
Publicado 05/02/2010 17:35
O Brasil vai vencendo os casos mais escandalosos de pobreza, mas há muito ainda a fazer. Esta é a conclusão que se pode tirar do artigo do economista Marcio Pochman que pode ser lido hoje neste portal, sob o título "Brasil requer novos métodos de combate à pobreza". Presidente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ele comemora ganhos alcançados pelo país desde 2003, e quer mais.
Já foi o tempo, diz, em que a pobreza era vista (até por um economista notável como David Ricardo) como resultado de causas naturais, como a descontrolada proliferação dos seres humanos. Naquele mesmo século 19, críticos – entre eles Karl Marx – rejeitaram aquela explicação e atribuíram a pobreza à péssima distribuição da riqueza e da renda. Foi também naquele século, lembra Pochman, que surgiram métodos científicos para medir a pobreza, que passou a ser encarada em relação à riqueza geral de uma certa sociedade. Estão aí enraizadas as concepções que definem, diz o economista, a pobreza extrema (acesso a bens que garantem apenas a sobrevivência da pessoa) e a pobreza absoluta (acesso ao consumo básico para a reprodução humana). Critérios que passaram a ser substituídos "pela medida de pobreza relativa".
Vistas as coisas dessa maneira, os dados de estudos do IPEA revelam avanços no Brasil – mas lentos, como Pochmann demonstra. Em 2008 o país tinha 28% da população na pobreza absoluta e 10,5% na pobreza extrema. E mais de metade (54%) viviam na pobreza relativa. Até 2016 – se a política atual de combate à pobreza continuar – a pobreza extrema vai desaparecer, e a pobreza absoluta vai diminuir para 4% da população. Isto significa que grande parte dos brasileiros vai continuar vivendo em situações de carência naquela que poderá vir a ser, naquele ano, a 5ª maior economia do planeta. É por isso, acentua ele, que "o rumo brasileiro certo requer, ainda, inovadores métodos de combate às diferentes formas de pobreza, sobretudo na desigual repartição da renda e da riqueza".
Nesse sentido, a Câmara dos Deputados acaba de aprovar um Projeto de Emenda Constitucional que inclui a alimentação entre os direitos sociais previstos no artigo 6º da Constituição. Só falta a promulgação em sessão do Congresso para que o novo direito seja assegurado, e incluido também na Consolidação dos Direitos Sociais que a presidência da República vai levar ao Congresso, e que já desperta resistências conservadoras.
É por este viés que se pode ler a notícia da impaciência da revista conservadora inglesa The Economist com as reticências do candidato José Serra em entrar na disputa eleitoral. "Serra precisa ir à luta", conclama a revista sem esconder sua torcida pela volta dos tucanos e seu projeto privatista e anti-nacional à presidência da República no Brasil. E diz por que: ele poderá, se presidente, "impulsionar as reformas fundamentais" – de caráter neoliberal, claro. Mesmo porque governou "sem desperdícios nas finanças públicas" e – o que é o principal do ponto de vista conservador – "enfrentando a oposição dos sindicatos de professores".
Mesmo sem ter um único e mísero voto na eleição presidencial brasileira pois é uma revista estrangeira, The Economist é porta-voz de interesses que estão em posição contrária à daqueles que inscrevem em suas bandeiras o combate à pobreza e a ampliação dos direitos sociais.
Este é um aspecto importante – central – dos programas que estarão em disputa na eleição de outubro, que vai indicar o sucessor de Lula. A resistência conservadora é muito forte. Mas as mudanças iniciadas em 2003 e que apontam para o fim da pobreza e a busca de "inovadores métodos" para combatê-la precisam continuar e se aprofundar. E o nome do próximo presidente para seguir nesse caminho não é o do tucano José Serra