A luta por mudanças versus o credo do "Davos man"
As declarações ministro da Fazenda Joaquim Levy e as propostas e ações até agora executadas pela equipe econômica por ele […]
Publicado 24/01/2015 09:44
As declarações ministro da Fazenda Joaquim Levy e as propostas e ações até agora executadas pela equipe econômica por ele chefiada têm causado apreensão entre as forças progressistas do país e os movimentos sindicais e populares que apoiam o governo da presidenta Dilma Rousseff.
Levy foi encarregado pela mandatária da árdua tarefa de reorganizar as contas do país, o que, por óbvio, exigirá o concurso de todos os setores da sociedade. No campo das forças transformadoras que almejam construir uma nação desenvolvida, progressista e socialmente justa, ninguém em sã consciência, compreendendo a dimensão da crise em que está engolfado o sistema capitalista e os problemas estruturais que o Brasil precisa enfrentar, advoga o desperdício nem formula reivindicações irrealistas. Muito menos agiria de maneira politicamente irresponsável interpondo óbices à governabilidade ou adicionando problemas à presidenta. Para enfrentar a oposição sistemática das forças neoliberais e conservadoras, que fomentam crises, fazem provocações, conspiram, urdem golpes e claramente pretendem derrubar o governo, é necessária a união das forças progressistas e dos movimentos populares em torno da liderança da presidenta Dilma, na defesa das conquistas políticas e sociais alcançadas durante os últimos anos.
Isto requer persistência na realização do programa de mudanças e reformas que despertou o entusiasmo e a mobilização popular na memorável campanha eleitoral do ano passado e levou Dilma à vitória. Por isso, o ponto de partida para enfrentar as dificuldades econômicas e financeiras é a defesa da economia nacional e popular e não o seu enfraquecimento por meio da estagnação, recessão, corte do gasto público e do investimento. Muito menos o ataque a direitos sociais.
As primeiras medidas anunciadas pela equipe econômica colheram a oposição dos movimentos sindicais porque objetivamente atingem direitos trabalhistas e previdenciários e sinalizam numa direção contrária às expectativas desses movimentos.
Igualmente preocuparam as declarações do ministro Levy em Davos de que “vai haver ajustes, sim”, “não vim para fazer remendos, mas reformas”, ou as críticas ao “obsoleto” sistema de seguro-desemprego do país, aplaudidas por banqueiros, a diretora-geral do FMI e a mídia conservadora do Brasil e do mundo, para quem a política de Levy é “coerente e explícita, clara, expressiva e confiável”, o que soa como promessa de que vamos pelo caminho da diminuição do papel do Estado nacional e desenvolvimentista e nos pautaremos pelos mantras do “mercado” financeiro. A tal ponto o ministro da Fazenda exibiu seu credo, que foi festejado nos Alpes suíços com a alcunha de “Davos man”.
A nossa observação nada tem a ver com a crítica da oposição. Esta defende que é necessário cortar mais e mais, diminuir o tamanho do Estado e promover todas as desregulamentações de acordo com o receituário do capital financeiro. O nosso ponto de vista é de defesa do desenvolvimento nacional com distribuição de renda, valorização do trabalho e progresso social.
Não precisamos recorrer ao exemplo europeu, porquanto temos a nossa amarga experiência vivida em governos anteriores e mesmo no período em que o Ministério da Fazenda e o Banco Central foram dirigidos pela dupla Palocci-Meirelles, para argumentar sobre o quanto pode ser ruinosa para a nação e o povo uma política macroeconômica sob a direção de quadros convictos do valor sacrossanto dos dogmas do mercado financeiro.
Torna-se, assim, necessário um debate nacional amplo sobre que rumos o país percorrerá na atual etapa. Até agora, o que se vê nas declarações e atitudes do ministro Levy é o uso da sua autoridade, não para infundir ânimo na população e no mundo do trabalho, mas nos banqueiros e nos organismos financeiros internacionais..
Nesse sentido, outro ministro do governo Dilma, Armando Monteiro, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, concordando inteiramente com o que se tem chamado de “ajuste”, bradou que o setor que representa não pode sofrer perdas. O mundo do trabalho poderá?
É preciso formar a convicção de que o que tem de mudar é o modelo, e ter vontade política para tal, mobilizar o povo, os trabalhadores e enfrentar interesses.
O centro da orientação política das forças progressistas é o apoio político e social ao governo da presidenta Dilma na realização das reformas e mudanças. Tomando esta orientação como referência e divisor de águas, é imperioso prosseguir a luta contra a ofensiva da direita, contribuir para o debate das soluções aos problemas econômicos e financeiros do país e organizar a luta em defesa dos direitos sociais e pelas reformas estruturais democráticas.