A moça do vestido curto e a selvageria machista

O episódio envolvendo a estudante de turismo Geisy Arruda, da Uniban, que foi selvagemente atacada no campus daquela instituição em São Bernardo do Campo (SP), por causa do vestido que usava, ainda vai render muita discussão na mídia, nas escolas, na sociedade. E é bom que renda mesmo.

De tudo que já foi falado sobre o assunto, duas questões importantes, tratadas de forma secundária, merecem ser comentadas pois são úteis para analisar o episódio: a primeira delas é a informação de que a estudante já havia usado o mesmo vestido na mesma faculdade em ocasiões anteriores e nestas ocasiões não foi hostilizada. A segunda questão é que o episódio só ganhou impacto midiático porque foi parar no Youtube, a grande vitrine global dos dias atuais.

A primeira questão revela que não foi o vestido curto o cerne do problema. A reação coletiva de hostilidade parece mais fruto do que se chama popularmente de 'comportamento de bando'. Alguém tomou a iniciativa de hostilizar a estudante e o comportamento agressivo ganhou adeptos e se espalhou, virando aquela cena degradante que o Brasil e o mundo assistiram. Foi um comportamento temperado de histeria, machismo, e uma agressividade que beira o fascismo, sendo intolerável demonstração de conservadorismo, preconceito e intolerância.

A garota saiu da faculdade escoltada pela polícia, vítima de violência física e psicológica brutais, com ameaças de estupro. Parece que só a administração da Uniban não viu isso, e decidiu – num primeiro momento – expulsar Geisy, culpando-a pela agressão de que foi vítima. A reação pública contra essa decisão absurda expôs dois vilões no episódio: os alunos que lideraram e/ou participarm a agressão covarde contra a estudante, e a própria Universidade. É risível a nota da Uniban mencionar termos como "responsabilidade educacional", "princípios éticos", "dignidade acadêmica","moralidade" e condenar a "complacência". Há atitude mais complacente do que passar a mão na cabeça de um bando de agressores machistas contra uma colega?

A imagem da universidade sai do episódio irreversivelmente arranhada, e a culpa é dela própria e do grosseiro caminho que a administração universitária tomou. O caso Geisy é educativo para ajudar a desmascarar o machismo ainda vigente, e muito forte, como o caso revela, e também a permanência da violência contra a mulher e do fundamentalismo que ainda habita a cabeça de muitos. É também um sinal de alerta para que outros bandos e turmas escolares sejam denunciados sempre que tentarem impor humilhações a seus colegas de escola, numa pratica mal-sã que ganhou um nome inglesado: "bullying".

É neste ponto que cabe destacar a questão do apelo midiático do episódio. Vivemos na sociedade da imagem e as novas tecnologias digitais estão levando essa característica ao extremo. Quase sempre a serviço das banalidades e da alienação, mas de quando em quando servem para denunciar episódios de violência como o da Uniban, permitindo que a sociedade reaja à altura. Nesse sentido, o episódio Geisy Arruda serve de alerta e pode marcar o início de um novo tempo para o nosso sistema educacional, onde a intolerância seja contra as agressões e não contra os agredidos.