A voz das urnas

O Brasil está a poucas horas de comparecer às urnas para escolher novos prefeitos e vereadores. Poucas vezes uma disputa […]

O Brasil está a poucas horas de comparecer às urnas para escolher novos prefeitos e vereadores. Poucas vezes uma disputa local foi tão nacionalizada; poucas vezes esteve tão nítida a relação que há entre a escolha de administradores municipais e a definição dos caminhos e correlação de forças que determinarão, dois anos depois, a indicação das autoridades estaduais e nacionais. Por isto a eleição do próximo domingo exige atenção redobrada do eleitor, cuja escolha, neste ano, manifestará também a tendência para a eleição a cargos do Executivo e do Legislativo em 2014.

A liberdade do voto significa o respeito irrestrito à vontade do eleitor desde o momento da definição de sua escolha, ao longo da campanha eleitoral, até o ato final do registro do voto na urna eletrônica.

A oposição conservadora e de direita tentou inúmeras formas de manipular a formação da opinião do eleitor. Tentou mobilizar suas convicções religiosas e morais, incluindo apelos de baixo nível sobre a liberdade de comportamento do eleitor, abusando da referência de gosto duvidoso a temas como o aborto e o respeito (ou desrespeito…) à orientação sexual das pessoas.

A mídia conservadora pressionou também pela rapidez no julgamento do chamado “mensalão” e comemorou quando ele começou, em agosto, antevendo uma influência eleitoral que a campanha e as pesquisas de opinião não registraram com a força esperada.

O conservadorismo chegou ao absurdo pela voz do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que, rompendo a exigida neutralidade e prudência de um magistrado (mesmo em seu caso, que tem o papel de acusador naquele processo cujo julgamento está em curso no Supremo Tribunal Federal), teve o deselegante e incorreto gesto de manifestar seu desejo de que o julgamento do “mensalão” se traduza em influência eleitoral. "As urnas dirão se haverá alguma repercussão. A meu ver, era bom que houvesse", declarou aos jornalistas.

Aliás, nunca é demais lembrar que, agindo como líder de partido político, o procurador tem traduzido suas preferências partidárias no rigor com que julga uns e com a tolerância com que julga outros. Por exemplo, no último dia 21 de setembro, tomou a decisão de mandar o STF arquivar o processo sobre as relações entre o deputado Stepan Nercessian (do PPS-RJ, um dos pilares da oposição conservadora e neoliberal) e que, tendo recebido R$ 175 mil do bicheiro Carlinhos Cachoeira em 2011, alegou que o dinheiro fora emprestado. Neste caso, Gurgel foi compreensivo e não viu indício de crime na suspeita ação de um político que participa talvez das mesmas convicções que Gurgel e que, neste caso, pensa ele, não se envolveu em atos ilícitos, mesmo mantendo relações comprovadas com aquele agente da contravenção.

O que as urnas dirão no próximo domingo vai sendo desenhado pelas últimas pesquisas de opinião, que mostram disputas apertadas em várias capitais e cidades maiores, e indicam dificuldades para os cardeais tucanos. Em São Paulo, José Serra enfrenta uma situação que retrata a decadência tucana na cidade. Em Salvador, ACM Neto paga o preço da arrogância e do desprezo pelos direitos dos brasileiros de pele escura e amarga o aprofundamento do colapso do “carlismo”, a corrente política direitista que herdou em farrapos depois da morte de seu avô, Antônio Carlos Magalhães; em Fortaleza, o ex-todo poderoso tucano Tasso Jereissati é carta fora do baralho na disputa eleitoral; em Manaus, o afoito Arthur Virgílio pode assistir à confirmação de seu declínio político.

O quadro é de mudanças que confirmam, a nível municipal, a nova configuração de forças que se instaurou no Brasil na era Lula, desde 2003. É um Brasil novo, complexo, multifacético, mais democrático e com maior protagonismo popular que vai surgindo no desenho deste 7 de outubro. O Brasil do declínio do conservadorismo neoliberal e direitista e fortalecimento das forças democráticas, populares e patrióticas.