Assassinato de jovem pela PM é crime contra a democracia

Ao condenar, em sua conta no Twitter, o assassinato do adolescente Douglas Rodrigues, de 17 anos, por um PM, em […]

Ao condenar, em sua conta no Twitter, o assassinato do adolescente Douglas Rodrigues, de 17 anos, por um PM, em São Paulo, a presidenta Dilma Rousseff deu a correta dimensão nacional a uma tragédia que envergonha o país: o genocídio de jovens negros.

O assassinato do estudante é um daqueles casos que se pode classificar entre os designados por adjetivos como “motivo torpe” ou “banal”.

A PM fora chamada para atender a um caso trivial: um conjunto de jovens divertia-se na via pública em torno de um automóvel com música em alto volume. Eram duas horas da tarde, mas mesmo assim alguém chamou a polícia, queixando-se de perturbação do sossego público.

A sequência dos acontecimentos mostrou não um eventual despreparo da PM, mas o caráter fascista de uma corporação armada voltada para a ação violenta contra a população.

É inaceitável a versão de que um agente da PM tenha dado um tiro acidental no garoto. A ação revela antes um treinamento voltado contra a população. O soldado saiu da viatura de arma na mão, engatilhada, para atender a um acontecimento banal! Isto é, saiu da viatura, pronto para matar!

Os protestos contra a ação da PM vararam a madrugada na Vila Medeiros, zona norte de São Paulo (SP). E a PM deu novas demonstrações do caráter fascista de sua orientação, provocando choques que resultaram em quebra-quebra generalizado. Seis ônibus e dois veículos foram destruídos, uma viatura da PM foi atacada, duas agências bancárias foram depredadas. Dos 300 manifestantes, 90 foram presos! Um terço deles! Os protestos continuaram no dia seguinte, com o incêndio de nove veículos e algumas lojas saqueadas, informou a imprensa.

Nesta terça-feira (29), novo assassinato de um garoto, na mesma região da capital paulista, voltou a ser motivo de ações populares. No Parque Novo Mundo uma avenida foi bloqueada e veículos apedrejados por manifestantes indignados pelo assassinato de outro adolescente, de 16 anos. Segundo a PM, o pretexto teria sido um assalto, versão negada pelos moradores da região, que conheciam o rapaz que foi morto.

Estas tragédias confirmam, ao vivo e em cores, as conclusões do estudo Segurança Pública e Racismo Institucional, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no dia 17 de outubro. Ele revela, mais uma vez, que a chance de um adolescente negro ser assassinado é 3,7 vezes maior do que a de um branco; a taxa de homicídios de negros é de 36,5 por 100 mil habitantes, enquanto entre os brancos são de 15,5 por 100 mil habitantes.

A reação da presidenta Dilma Rousseff reflete a indignação democrática contra esta realidade infame. Seu comentário foi certeiro. Além de manifestar solidariedade à família e aos amigos do jovem assassinado, escreveu: “Assim como Douglas, milhares de outros jovens negros da periferia são vitimas cotidianas da violência. A violência contra a periferia é a manifestação mais forte da desigualdade no Brasil”.

Dilma Rousseff tem razão. É o retrato da desigualdade e também de uma polícia que existe para atuar contra a população da periferia, formada, sobretudo por uma maioria de pobres, negros e mestiços. A democracia não aceita a desigualdade e rejeita uma polícia cujo alvo é o povo pobre.