Autoritarismo e demagogia eleitoreira de Bolsonaro

Foto: Daniel Marenco

A informação de que o presidente Jair Bolsonaro orientou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a infiltrar seus agentes nas manifestações contra o governo com o objetivo de monitoras os protestos, num forte indício de abuso de poder, e a presença do diretor da agência de inteligência dos Estados Unidos (CIA) em agenda oficial em Brasília, reforçam o pendor autoritário do bolsonarismo. Sem margens para levar adiante o seu projeto de poder, que passa pelas eleições presidenciais de 2022, por meio de mediações políticas, Bolsonaro recorre cada vez mais aos métodos antidemocráticos.

Sem muito a apresentar ao longos do seus 28 anos como deputado federal, além de exaltações à ditadura militar e agressões a parlamentares que dele divergissem e aos movimentos sociais, Bolsonaro não alterou sua conduta intolerante na Presidência da República*. Os rompantes autoritários, protagonizados quase diariamente por ele, são reproduções explícitas do seu pensamento, do seu ideário de poder. Mesmo sob a vigência da Constituição, que preserva no essencial seu perfil democrático, “Bolsonaro ainda encontra terreno algum acolhimento para sua agressividade porque preserva bases sociais para isso, em que pese a crescente rejeição ao seu governo, como demonstram as pesquisas de opinião”.

A edição da Medida Provisória (MP) que prorroga o pagamento do auxílio emergencial por três meses, atendendo a mais de 39 milhões de brasileiros com valores entre R$ 150 e R$ 375 até outubro, certamente dá ao presidente margem para proselitismo eleitoreiro. A necessidade da medida é inegável, dada a elevadíssima taxa de desemprego, perto de 15%, e a ainda descontrolada disseminação da Covid-19, mas, em se tratando de Bolsonaro, ela está mais para demagogia eleitoreira do que para uma ação efetiva de enfrentamento à combinação grave das crises econômica e sanitária. Registre-se que as centrais sindicais brasileiras contestaram o valor e período curto em que será pago o auxílio e exigem R$ 600,00 até o fim da pandemia.

É sabido que o governo deu as costas para o povo desde o início da pandemia, que encontrou o país se arrastando numa crise econômica de grandes proporções. Em lugar de encarar o problema e tomar medidas para impedir a rápida propagação da Covid-19, Bolsonaro e seus asseclas tomaram atitudes de absoluto descaso tanto em relação à economia quando à saúde. Com o caos instalado, o presidente agora se arvora em defensor das vítimas.

Diante das pesquisas indicando sua rápida queda de popularidade, Bolsonaro certamente recorrerá mais e mais a esses métodos demagógicos. “Estamos prorrogando o auxílio emergencial por mais três meses enquanto acertamos o valor do novo Bolsa Família para o ano que vem”, disse o presidente. Há ainda a informação do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que haverá o lançamento do Renda Brasil – na verdade, um novo nome a ser dado ao Bolsa Família – ainda neste ano. Tudo isso em meio a uma escalada de evidências de corrupção no governo que não tem fim a vista.

O caráter demagógico dessas medidas se expõe pela constatação de que são meros paliativos, sem lastro em um projeto que visa o enfrentamento efetivo das crises que assolam o país. E assim Bolsonaro vai tentando desbravar o caminho para a continuidade do seu projeto de poder, ancorado na administração da agenda de destruição do Estado nacional e da institucionalidade democrática do país, um desafio que exige réplica enérgica das forças democráticas para conter imediatamente os passos dessa marcha autoritária.