Banco Central chantageia com inflação para aumentar juros

Nos dias 15 e 16 próximos, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reunirá para decidir sobre a taxa de básica de juros, a Selic. Ao contrário do que ocorreu nos últimos seis meses, quando o Copom a manteve estável em 11.25%, dessa feita está determinado aumentá-la em pelo menos 0,25%. Para que isso ocorra, os banqueiros já fizeram soar suas trombetas e uma legião de articulistas  difunde postulados e dados para justificá-lo.


 


Na última semana de  março, o BC divulgou o seu trimestral ''Relatório de Inflação'' no qual vê riscos para um aumento dos preços. Nele, sustenta que o consumo das famílias já está além da capacidade de produção da economia, o que poderá impulsionar a inflação. Outro referencial do BC para respaldar seu intento é o conteúdo do seu Boletim Focus, do dia 31. Na pesquisa que fez junto ao mercado, os banqueiros expressaram a expectativa de que a Selic fechará  2008 em 12%. Além disso, é claro alardeiam-se os efeitos danosos da crise estadunidense.


 


A questão é apresentada sob o rigor de um dualismo medieval. Ou se aumenta o juro, ou país arderá nas labaredas da inflação. Essa chantagem é velha, mas tem força devido à memória social e popular dos danos corrosivos da inflação, chamada com razão pelo presidente Lula de ''desgraçada''.


 


Em face dessa possibilidade de aumento dos juros, acirrou-se o conflito entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central. A Fazenda, com Guido Mantega, polariza o setor desenvolvimentista do governo e busca demonstrar ao presidente Lula os prejuízos e os equívocos dessa elevação da Selic. Henrique Meireles, com a cobertura da maioria da mídia e dos banqueiros, proclama que o aumento é uma espécie de ''necessidade vital.'' Neste debate, economistas de correntes políticas distintas, como Luiz Gonzaga Belluzzo e Delfim Neto, entre outros, combatem a posição do  BC.


 


Os argumentos do BC, disseminados como ''verdades absolutas'', são frágeis senão falsos. Não é verdadeiro que há uma desproporção entre consumo da sociedade e a capacidade de produção da economia. Dados da Fiesp e da CNI, Federação das Indústrias de São Paulo e Confederação Nacional da Indústria, demonstram que houve uma queda no grau de utilização da capacidade instalada. De janeiro para fevereiro deste ano, o índice caiu de 83.1% para 82.9%.


 


Quanto às expectativas dos banqueiros de alta da taxa de juros, o economista Delfim Neto ironizou dizendo que seria pueril esperar que o sistema bancário aumente suas expectativas de juros porque se preocupa com oscilação da inflação de 4.5% para 4.6.%. ''Eles estão interessados é porque aumentando os juros seu lucro aumenta proporcionalmente e o Tesouro é que vai pagar isso. Esse que é o ponto''.


 


A estimativa apontada para a inflação é 4.6% enquanto a meta fixada é de 4.5% – uma diferença irrisória. A Fazenda pede ''temperança'' ao BC e pondera para que volte a examinar o problema em junho. E o BC, faz, literalmente, ''ouvido de mercador''.


 


Tão pouco o BC se importa com as conseqüências de um eventual aumento da Selic. Resumidamente, assim: acentuará a diferença entre juro externo e interno que por sua vez atrairá mais dólares o que provocará a valorização do real. Uma maior sobrevalorização do câmbio estimulará as importações e prejudicará ainda mais a exportações. Tal ciranda irá prejudicar o balanço de pagamentos do país. O BC já calcula para 2008 um déficit em transações correntes de 12 bilhões de dólares. Esse  rombo, se os juros aumentarem, poderá se expandir, reconduzindo o Brasil à vulnerabilidade externa. Por outro lado, haveria um aumento da dívida pública porque parte considerada dela é indexada a Selic.


 


O BC, ao defender o aumento dos juros, revela sua total dependência com os banqueiros e desnuda sua política deliberada de transferir a riqueza produzida pela nação para alimentar os ganhos fabulosos do capital especulativo.


 


Não há motivos para o  governo Lula se submeter à essa chantagem que prevê ''ou juros astronômicos ou escalada inflacionária''. Ninguém do campo político progressista  que sustenta o governo quer o retorno da ''desgraçada da inflação'', e nem estancar o crescimento econômico que deslanchou e a distribuição de renda que começou.  O dualismo de Meirelles é na verdade uma armadilha  parar aprisionar o governo.


 


Além dos interesses de mega-lucro dos banqueiros, associado a isso, o aumento dos juros teria conseqüências políticas porque  poderia levar o país ao desmantelo por volta de 2010. Tudo o que deseja a direita neoliberal para tentar reaver o governo da República.


 


Finalmente, assim como se diz que a paz é um assunto sério demais para ser decidido por generais, essa questão é séria demais para ficar nas mãos desse BC dependente dos banqueiros. As forças políticas progressistas que sustentam o governo e os movimentos e entidades que representam o povo e os trabalhadores não podem assistir, no camarote, esse confronto. É preciso que tomem a palavra. Que se manifestem. Contra o aumento dos juros e pela defesa do desenvolvimento acelerado com distribuição de renda.