Bolsonaro não é a Constituição, é o golpismo

A participação do presidente da República Jair Bolsonaro no ato em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, no domingo (19), é a prova cabal de que ele, como militante do golpismo, desrespeita a institucionalidade democrática do país. Ao confrontar a Constituição e se perfilar num ato que defendia a intervenção militar, e criminalizar a política com o pretexto de defender a “nova política” contra a “velha política”, Bolsonaro escancara seus intentos golpistas.

Ele busca a confrontação com o espectro democrático ao semear o caos e a desordem, rompendo a cadeia legal formulada pela Constituição. Rejeita a interlocução com o Legislativo e o Judiciário para se impor como autoridade única, intenção bem demonstrada com a sua proclamação, nesta segunda-feira (20), de que é, “realmente, a Constituição” (uma grotesca caricatura de Luis XIV, que teria proclamado a famosa frase “O Estado sou eu”).

Na mesma ocasião, Bolsonaro disse que respeita o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional, mas encaixou a ressalva: “Eu tenho opinião.” A explicação para essa “opinião” pode ser encontrada em sua tese de que “o pessoal geralmente conspira para chegar ao poder” e ele está “no poder”. “Falta um pouco de inteligência para quem me acusa de ser ditatorial. Eu sou, realmente, a Constituição”, afirmou.

O malabarismo retórico, permeado pelas provocações de sempre, contradiz suas práticas. O tom diversionista tem a clara intenção de desnortear os que lhe fazem oposição. No concreto, Bolsonaro mostra, por todas as categorias econômicas e sociais, que trabalha para reinar como senhor absoluto do caos. Basta ver a sua irresponsável indiferença com a situação do emprego, da renda e das empresas – a economia nacional, em resumo – em plena escalada da tragédia da pandemia do coronavírus, a Covid-19.

Suas palavras aparentemente desconexas se encaixam na conduta de dizer uma coisa e fazer outra, como mostraram as faixas em defesa da intervenção militar e de ataque às instituições no ato em que ele participou em Brasília. Também mostram isso a sua sistemática volta aos ataques aos governadores, aos outros Poderes da República, à imprensa e a demais instituições que compõem o espectro democrático do país.

O ato em Brasília provocou imediata e contundente resposta de um grande leque de organizações e personalidades, com palavras que enfatizaram a defesa da democracia. Essa pronta reação confirma a elevação das ações das forças democráticas, uma constatação dos motivos que têm servido de alertas para a importância de uma frente democrática e patriótica de ampla envergadura, alçada à urgência de salvação nacional.

A situação atingiu um grau de ameaças tão elevado que se faz urgente ações mais efetivas para somar forças suficientes para conter a marcha autoritária de Bolsonaro. A ideia de frente ampla, de salvação nacional, ganha celeridade e vai se configurando à medida em que setores e atores do campo democrático intensificarem o diálogo entre si em favor da convergência necessária para derrotar o bolsonarismo.

Esse espectro político e ideológico, com diferenças e até divergências entre si, nesse momento tem a responsabilidade de defender a democracia como prioridade máxima – como fizeram, recentemente, os governadores em carta de repúdio à atitude de Bolsonaro no ato golpista de Brasília.

Um passo adiante em iniciativas viria com o diálogo sistemático entre governadores, o Congresso Nacional, os partidos políticos, os movimentos sociais, as personalidades democráticas e as instituições representativas da sociedade. O momento exige medidas condizentes com a necessidade de respostas ao atrevimento golpista de Bolsonaro.