Contas externas ameaçam crescimento econômico
Principal responsável pela péssima notícia, o Banco Central anunciou nesta semana que as contas externas do Brasil tiveram um déficit […]
Publicado 30/07/2008 23:44
Principal responsável pela péssima notícia, o Banco Central anunciou nesta semana que as contas externas do Brasil tiveram um déficit de 17,4 bilhões de dólares no primeiro semestre do ano. O resultado negativo se refere às transações correntes, que incluem todas as negociações de bens e serviços com outros países. Ele corresponde a 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Por este critério, o déficit foi o maior desde 2002. O vilão dessa deterioração é, principalmente, a remessa de lucros e dividendos ao exterior pelas multinacionais, o que evidencia o aumento da vulnerabilidade do país e o risco de novas freadas na economia nacional.
Sugando nossas riquezas, as multinacionais estrangeiras enviaram às suas matrizes 18,9 bilhões de dólares em lucros, um crescimento de 94% em relação ao mesmo período do ano passado. Montadoras de veículos e bancos responderam por mais da metade (52%) do total das remessas. Até os economistas mais ortodoxos, adoradores do deus-mercado, ficaram surpresos com a velocidade do crescimento do déficit. Afinal, no primeiro semestre de 2007, o saldo das contas externas foi positivo em 2,4 bilhões de dólares. Num curto espaço de tempo, esse festejado superávit se derreteu. Para piorar ainda mais este quadro, todos os indicadores apontam que esta sangria vai crescer nos próximos meses.
Como alerta Umberto Martins, assessor da CTB, esta sangria tem efeitos destrutivos. ''A riqueza enviada pelas multinacionais ao exterior é extraída do trabalho excedente (que Marx chamava de mais-valia) produzido pelos trabalhadores. Uma parte expressiva da poupança nacional deixa de ser canalizada para os investimentos internos ao ser transferida para outras plagas. A remessa do capital estrangeiro constitui, por isto, um sério obstáculo ao crescimento da economia. A análise crítica do balanço de pagamentos revela uma espoliação silenciosa e invisível da poupança ou do excedente do trabalho. Transparece nas estatísticas do BC o aumento da espoliação imperialista''.
Apesar da gravidade do problema, o BC insiste em manter o tripé neoliberal que ameaça o frágil crescimento da economia nativa – política monetária recessiva dos juros recordes; política fiscal contracionista do superávit primário; e jogatina financeira e cambial.
Além disso, o governo mantém uma atitude complacente diante da brutal remessa de lucros das multinacionais. Caso não enfrente com coragem estes gargalos, o governo Lula poderá ser responsável pela volta do ''vôo de galinha'' da economia, com a retração do crescimento e novos apertos para os trabalhadores.