Crise turca acossa um Brasil fragilizado

O Brasil, mais uma vez, sente os ventos de um novo vendaval na economia global. O entrevero entre a Turquia e os Estados Unidos é, além de político, econômico. Desde que o presidente Recep Tayyip Erdogan pediu que “os turcos retirassem de baixo do colchão os dólares, os diamantes, o ouro e os euros e os trocassem por liras turcas”, a turbulência monetária eclodiu e se espalhou pelo mundo, principalmente na Europa, atingindo moedas de países como Argentina, México, Índia e África do Sul.

A natureza da crise tem a ver com a vulnerabilidade de economias muito dependentes dos capitais estrangeiros. As moedas destes países, atingidas pela escalada de aumento dos juros nos Estados Unidos, vêm se desvalorizando, mecanismo que inverte os fluxos de dólares pelo mundo, que fluem da periferia para o centro do sistema. A divisa local (aqui o Real) se desvaloriza frente ao dólar, elevando o custo das importações e reduzindo o saldo das exportações. O Brasil possui um expressivo volume de reservas internacionais (dólares) para se proteger, mas há sinais de que suas defesas vêm se fragilizando.

Acontece que esse vendaval proveniente tanto da crise turca quanto do aumento de juros dos Estados Unidos atinge o Brasil, no momento em que ele se encontra fragilizado em decorrência da pauta ultraliberal e neocolonial efetivada pelo desastroso governo do presidente golpista Michel Temer.

Na verdade, o país começou a ser debilitado já em janeiro de 2015, uma vez que o PSDB, tendo Aécio Neves à frente, não aceitou o resultado das urnas e desencadeou uma escalada reacionária com fito de impedir a presidenta Dilma Rousseff de governar e de destituí-la do cargo por intermédio de um golpe, como se consumou em agosto de 2016.

Mas, antes disso, como está ainda bem vivo da memória do povo, o conluio Aécio Neves, Eduardo Cunha e Michel Temer fez uso de intensa sabotagem política, aprovando “pautas-bombas” contra o governo Dilma. Somam-se a isso a instabilidade jurídica, o avanço da Operação Lava Jato, que afetou setores estratégicos da economia brasileira, como petróleo e gás, construção civil e indústria naval.

Com Michel Temer entronizado no Palácio do Planalto, impuseram-se as pautas ultraliberais, em especial a Emenda Constitucional 95, que arrochou as chamadas despesas primárias (saúde, educação e infraestrutura, por exemplo) na busca do “equilíbrio fiscal” sem mexer nas despesas financeiras.

Entra nessa conta, também, a transferências de ativos (como o pré-sal), a privatização e a tão desejada “reforma” da Previdência Social — que, felizmente, foi barrada pela mobilização dos trabalhadores (as) e pelo rechaço do povo. Outras medidas nessa direção é a extinção do Fundo Soberano — criado em 2008 para formar poupança pública e combater os efeitos da crise — e o pagamento antecipado de dívidas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao Tesouro Nacional.

Como se vê, o Brasil já está em pleno choque de interesses internos e diante de um dilema fundamental. Só um governo das forças interessadas no desenvolvimento do país pode reverter essa tendência de agravamento da crise.

À medida que os problemas sociais se complicam, a maioria da sociedade exige soluções efetivas. E essa contradição se reflete na luta política — um relevante aspecto da disputa que travam as forças interessadas no desenvolvimento do país, basicamente reunidas em torna da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e os agrupamentos ligados aos interesses financeiros e monopolistas.